Alcoolismo: descubra os perigos do consumo abusivo de bebidas alcoólicas

Saiba como identificar os primeiros sinais da doença e conheça as possibilidades de tratamento

O alcoolismo é uma doença caracterizada pela dependência a uma substância específica, no caso, o álcool. Segundo Eduardo Jucá, neurocirurgião e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, o uso abusivo de bebidas alcoólicas traz prejuízos em diversos aspectos da vida, como a condição física, a saúde mental e a convivência com família, amigos e colegas de trabalho.

Nesse contexto, o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo (18 de fevereiro) traz à tona a importância de dialogar acerca do tema. É essencial que tabus e resistências de reconhecimento e enfrentamento sejam substituídos pelo avanço na compreensão da enfermidade e do tratamento adequado.

Principais riscos do alcoolismo

Do ponto de vista biológico, o alcoolismo é capaz de prejudicar vários sistemas do organismo, provocando, por exemplo, anemias, cirrose no fígado, problemas de pele e de circulação, além de atrofia cerebral com consequências à memória e ao raciocínio.

Quanto à saúde mental, a doença pode acarretar diversos quadros e agravar condições como ansiedade e depressão. O indivíduo alcoólatra ainda direciona seu comportamento para o consumo cada vez mais abusivo, ingerindo quantidades maiores.



“O alcoolismo é um problema de grande impacto na vida do paciente, mas também uma condição que prejudica as famílias e toda a sociedade, representando uma verdadeira questão de saúde pública. Enfrentá-lo, portanto, também é uma missão de todos.” Eduardo Jucá, neurocirurgião, professor do curso de Medicina da Unifor

 


O aspecto pessoal também está suscetível a danos, uma vez que o alcoolismo pode abalar os vínculos familiares e a vida profissional, afetando não só o paciente, mas todos que convivem próximo a ele. Por fim, o excesso de álcool aumenta também o risco de envolvimento em situações de violência.

Fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença

Conforme explica o professor Eduardo, existem fatores ambientais e sociais que afetam o consumo de álcool, incluindo influências durante a adolescência e a juventude, contexto profissional, problemas afetivos ou condições de vulnerabilidade social.

No entanto, o alcoolismo envolve também características neurobiológicas próprias do paciente. “Ter essa compreensão é importante para ajudar a combater estigmas e a acolher as pessoas que precisam de acompanhamento”, frisa Jucá.

Thiago Costa, psicanalista e docente do curso de Psicologia da Unifor, destaca que a ingestão de bebida alcoólica é um velho costume humano. “Na Grécia antiga, já era tratada como algo alegre, místico e poderoso, tendo o deus Dionísio como seu representante”, pontua.

Segundo ele, é importante fazer essa observação histórica para pensar sobre os fatores que podem influenciar na dependência. “São várias as condições e não necessariamente temos uma primordial, principalmente se tratando de uma droga lícita de fácil acesso e tão amplamente consumida nos mais diversos momentos”, analisa.



“Cada caso demonstra uma singularidade que deve ser levada em consideração para a direção do tratamento. O álcool, enquanto drogadição que se manifesta no seu uso nocivo, tem um significado singular para cada paciente, de acordo com a sua história e, principalmente, a partir de seus traumas e sua condição de vida atual.” — Thiago Costa, psicanalista e professor do curso de Psicologia da Unifor
 


A aceitação é o primeiro passo para a cura do alcoolismo

Eduardo Jucá alerta para a possibilidade de que a pessoa afetada pelo alcoolismo não tenha a percepção de que algo está errado. Isso acaba conferindo o discernimento por parte de alguém da convivência do paciente.

De acordo com o profissional, outra pessoa que não seja a afetada poderá notar com mais clareza quando a ingestão de bebidas alcoólicas estiver ultrapassando o caráter social e recreacional, seja em frequência ou em quantidade aumentada.

Também deve-se observar se o consumo vem prejudicando a rotina e os relacionamentos. Diante desses pontos cruciais, o neurocirurgião salienta a importância de obter uma avaliação médica. “O especialista adequado é o psiquiatra, que irá confirmar o diagnóstico com os critérios formais e iniciar as medidas de tratamento”, indica o professor.

O psicanalista Thiago Costa acrescenta que, muitas vezes, conscientizar o paciente sobre o próprio alcoolismo é um grande desafio. Ele sugere que estratégias de convencimento para aderir ao tratamento sejam realizadas em conjunto, com familiares e profissionais de saúde.

O papel da família e dos amigos, segundo Thiago, é de grande importância nesse processo, principalmente no que diz respeito às características singulares de cada paciente. Compreensão, apoio emocional e estrutura de logística para a realização e condução do tratamento são fundamentais.

Possibilidades de tratamento

Conforme explica Jucá, o tratamento do alcoolismo deve ser composto de estratégias variadas e abordagem multidisciplinar, com a atuação fundamental de profissionais de psicologia e de outras áreas que se fizerem necessárias, como a reabilitação e a assistência social.

O docente destaca ainda a possibilidade de psicoterapia, frisando o papel importante do engajamento em grupos de apoio envolvendo pacientes e familiares no combate ao alcoolismo.

“Não se pode abrir mão do acompanhamento do médico, que utilizará o direcionamento adequado e pode, inclusive, utilizar medicações específicas, sempre com supervisão, para facilitar o controle da dependência e combater os efeitos nocivos do álcool”, orienta.



A psicoterapia é uma aliada na luta contra o alcoolismo, auxiliando no tratamento de problemas ligados à saúde emocional e mental (Foto: Getty Images)


Para o professor Thiago, exigir ou impor que o indivíduo faça o tratamento para o alcoolismo não é eficaz. Todavia, há momentos em que a internação involuntária é necessária, principalmente a pedido da família.

Isso acontece quando o profissional da saúde – o médico, no caso – identifica perigo de risco de morte para o paciente ou algum familiar próximo, dado o quadro clínico do sujeito e as tensões nas relações como consequências da dependência ao álcool.

Segundo o psicanalista, em um tratamento para alcoolismo, a psicologia traz a possibilidade do paciente entender mais sobre o que, na sua história, constituiu sua dependência.

A partir dos significados encontrados no tratamento psicológico, o indivíduo pode viabilizar novas possibilidades de lidar com as frustrações e angústias da vida, sem necessariamente recorrer ao uso do álcool de forma excessiva.

“Não é um processo simples, mas, se bem conduzido, temos ganhos consideráveis na qualidade de vida dos pacientes”, relata Thiago sobre a metodologia para lidar com o alcoolismo.