null Amizade em tempos de aulas virtuais: saiba como é possível construir laços de afeto à distância

Qui, 27 Agosto 2020 10:44

Amizade em tempos de aulas virtuais: saiba como é possível construir laços de afeto à distância

Apesar do isolamento social imposto pela pandemia, jovens utilizam o meio virtual para conhecer os colegas de curso e fazer trabalhos em grupo


Alan Melo, estudante do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)
Alan Melo, estudante do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)

Fato consumado: a internet tem sido a melhor amiga da população confinada que tenta se proteger da contaminação pelo novo coronavírus e precisa manter o isolamento social enquanto não vence a pandemia. Diante disso, boa parte do charme da amizade, aquele que incita o calor humano e se alimenta da constância dos encontros presenciais, escorre pelo ralo do ciberespaço. Mas afinal, como tem sido possível fazer novos amigos e amigas sob o manto impermeável das redes sociais? Quais as estratégias de intimidade e interação propostas por quem quer manter vivos os laços afetivos já consolidados, como também aqueles que estão no ar? E se é tempo de volta às aulas, embora remotas, como recompor aquele espírito de equipe e não abrir mão do imã que atrai quem compartilha ideias e sentimentos em comum, fazendo nascer assim as amizades? 

O modo remoto de fazer amigos

Efeito dominó. É abrindo caminho para o poder de contágio da amizade que o estudante do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição da Fundação Edson Queiroz, Alan Melo, vem conseguindo fazer novos amigos em tempos de isolamento social causado pela pandemia da Covid-19. “Como passamos a usar bem mais as ferramentas digitais para fazer contato e conversar com os amigos o que tem acontecido muito é que, no meio de uma videochamada com algum amigo antigo, ele mesmo pede para adicionar outro amigo que gostaria de me apresentar, seja para acrescentar algo ao assunto em pauta ou simplesmente por achar que teríamos muito a partilhar. E assim, a partir da indicação de um, vou adicionando outros amigos e esticando essa teia. Tenho gostado dessa nova forma de fazer amizade”, garante.

Para Alan, o próprio contato com a rede de amigos pré-existente à pandemia mudou, tornando-se mais assíduo. “Acho que pela própria circunstância de distanciamento social fui levado meio que forçosamente a falar muito mais com quem eu já convivia de perto. E até pessoas que, no curso de Jornalismo, eu só cumprimentava, comecei a me aproximar mais. Hoje, falo com algumas delas quase todos os dias, algo que talvez não acontecesse não fosse a pandemia, entende? Então, tem os dois lados: estamos afastados fisicamente mas temos aí a oportunidade de abrir guarda para o outro, de buscar mesmo uma proximidade com quem pouco conhecemos, de sair da bolha de uma turminha de amigos para alargar e diversificar o lastro das amizades”, opina.

Uma franca e elogiável abertura para o mundo sim, mas com direito a eventuais filtros e fechamentos. Há duas semanas, Alan apagou sua conta do Instagram com mais de 2 mil seguidores. Isso porque identificou ali um ambiente tóxico e superficial em meio a supostas amizades. “Começou a me fazer muito mal ver amigos e amigas postando fotos em festinhas em plena pandemia, enquanto eu, em casa, continuava respeitando todas as regras de biossegurança e distanciamento social. Vi pessoas preocupadas apenas com a vida delas, com o divertimento delas, sem pensar no risco que podiam levar aos outros. E chegou a um ponto que não agüentava mais. Parei de interagir com elas e passei a me sentir muito melhor, inclusive por saber que não estaria expondo ou compartilhando de minha intimidade com quem demonstrava ter uma visão tão rasa de mundo”, sublinha.   

Aos 20 anos, o estudante que escolheu a comunicação como ofício encara as novas formas de relacionamentos afetivos on line como temporárias. “Eu não acredito - ou não quero acreditar – que as redes sociais serão a nossa prática dominante de fazer amizades, por exemplo. Até porque adicionar amigos é muito fácil, basta um clique, mas manter são outros quinhentos. É preciso convivência e presença para se sentir cúmplice do outro e realmente criar uma intimidade”, ressalta Alan. Com a mesma idade e cursando o 8º semestre em Direito na Universidade de Fortaleza, Beatriz Abreu também se diz apaziguada com o modo remoto das amizades, mas confessa que no começo doeu. “Tenho uma turma de faculdade que saía muito, se encontrava todo final de semana. E de repente isso desapareceu. Tinham dias de chorar de saudade”, recorda.

A preços de hoje, diante de uma adaptação necessária à própria sobrevivência humana, as amizades se reinventaram. Segundo Beatriz, no seu círculo mais íntimo, há o dia da taça de vinho compartilhada a distância, o sagrado domingo das lives, o acordo tácito de se render à comilança quando, finalmente, sextou e as longas horas de conversas noturnas jogadas fora durante a semana, um modo certeiro de relaxamento pós-estudos e aulas remotas. “Estou ansiosa, claro, pelo 'novo normal' que já começa a permitir o encontro entre grupos restritos de amigos mantendo o distanciamento social. Mas como éramos antes talvez não dê mais para ser nem tão cedo, até uma vacina chegar. Por isso, o mais importante é a aceitação de nossa parte. Aceitar porque dói menos e o mundo todo está precisando que nos adaptemos”, aferra.

Para Beatriz, adaptar-se aos novos modos de construir e manter as amizades em tempos de pandemia é também um desafio ético. E se a hiperexposição de uma maioria na internet pode sim trazer novas tonalidades às amizades é preciso estar atento ao que há de nocivo ou mesmo criminoso no ambiente em que tudo parece permitido e as leis reguladoras de uso ainda estão se estabelecendo do ponto de vista jurídico. Assim é que a futura advogada alerta: “Nós acompanhamos, já durante esse período da pandemia, o festival de denúncias de assédios sofridos por mulheres, inclusive por professores, que acabaram sendo demitidos de seus empregos e punidos, graças ao efeito bola de neve, onde uma mulher encoraja a outra a denunciar. Isso é o lado bom da história, mas também vem mostrar o quanto devemos nos preservar e filtrar os relacionamentos nas redes sociais, onde há todo tipo de gente e intenção. Ou seja, onde estão os amigos, mas também os inimigos disfarçados ou não”.  

Megabites de fraternidade

Amizade sólida não estremece nem com o tempo nem com a distância. Eis a premissa que o estudante do segundo semestre do curso de Engenharia de Produção da Universidade de Fortaleza (Unifor), Vinícius Gerland, 21, defende depois de seis meses de distanciamento dos amigos feitos antes da pandemia. “Sou do tipo reservado e de poucas, mas verdadeiras amizades. Então, não tive dificuldade em manter meus contatos mesmo em isolamento, até por não ter mesmo essa necessidade de ver ou falar a toda hora com quem já convivo desde o colégio. E, sinceramente, não acho que seja possível fazer amizades pelas redes sociais. Com meu temperamento, eu não conseguiria, até porque amizade precisa de tempo, não é só adicionar. Paquerar, uma azaração pela internet, isso me parece mais fácil do que fazer amigos. No amor, a fila anda mesmo, mas na amizade não é por aí, o tempo é outro”, pontua.

Apegado à presença, Vinícius já comemora o momento em que, pelo menos no âmbito do trabalho, pôde voltar a encontrar pessoas. Ele trabalha na empresa júnior de engenharia de produção da Unifor e, pela primeira vez após o início da pandemia, cinco integrantes de sua equipe, todos de máscara, puderam se reunir com os devidos cuidados em uma área ao ar livre no Parque do Cocó. “O resultado de uma reunião presencial é infinitamente melhor do que um encontro virtual, assim como uma aula remota nunca vai ser comparável em termos de rendimento a uma aula presencial. Por exemplo: me causa muito desinteresse assistir às aulas remotas com todas as câmeras desligadas e só a câmera do professor ligada, como geralmente acontece. As pessoas estão mas não estão ali ao mesmo tempo, entende?”, critica.

O estar presente também é imprescindível para quem trabalha em áreas essenciais como a da Saúde, em que o home office não se justifica nem se sustenta em tempos de pandemia. Caso do egresso do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), Luiz Carlos Ferreira Uchôa, 28, que atende como dentista no único posto de saúde de Ideal, distrito do município de Aracoiaba, e viu colegas de labuta amigos sucumbirem ao combater na linha de frente a Covid-19. “Para nós, que não paramos de trabalhar, apesar de termos feito rodízios com a equipe já reduzida, o sentido da amizade se fortaleceu muito durante a pandemia. Precisamos do apoio emocional um do outro para suportar o risco inerente à rotina de trabalho e também de toda uma cumplicidade para saber que cuidar de si era cuidar do outro, já que ali, diante de qualquer descuido, todos podiam se infectar”, recorda.

Não à toa, portanto, Luiz Carlos também viu seus grupos de amigos do WhatsApp trocarem centenas de mensagens em um só dia.  “Trocar ideias, informações e sentimentos comuns, nesse período de crise sanitária, foi uma questão de vida ou morte, literalmente. Daí porque não só foi fácil como necessário adicionar e fazer amigos a distância, além de cultivar e cuidar das amizades já consolidadas, aquelas que sempre serviram como ombro amigo nos momentos mais difíceis. No meu caso, mantenho firme minhas amizades desde a época de faculdade e hoje sou amigo até dos meus professores da Unifor. Agora, voltando à rotina normal de trabalho presencial, o que fica é a certeza da extrema importância dos antigos e novos gestos de companheirismo e afeto. Seja de que forma eles cheguem, virtual ou presencialmente, farão toda a diferença para a nossa alegria de viver e, como diz o poeta, para que continuemos a dar corda no relógio do mundo”, conclui. 

Para abrir o leque de amizades

Fã confessa das redes sociais e do uso das ferramentas digitais como meio - e não fim – nos processos educacionais, a coordenadora do Núcleo de Tecnologias Educacionais (NTE), Andréa Chagas, estimula: “sou suspeita, mas acho sim perfeitamente possível construir amizades via redes sociais, assim como estudar e trabalhar on line. Quando estou no virtual, aliás, posso ampliar o meu leque de oportunidades para conhecer pessoas de outras áreas de formação e atuação diferentes da minha. E isso ganha uma importância ainda maior no momento em que as grandes aglomerações serão evitadas por tempo indeterminado. É hora de abrir o leque de relacionamentos através da web e deixar que o distanciamento social favoreça as interações e ajude a filtrar os conteúdos superficiais que não irão somar nada”. 

Na Universidade de Fortaleza (Unifor), Andréa vê com entusiasmo a adaptação dos alunos às aulas remotas e ao formato híbrido de educação que se desenha enquanto os encontros presenciais ainda não são possíveis. Para ela, a cada vez mais exigida intimidade com o virtual e suas formas de interação social e laboral impactam positivamente sobretudo na seara da Educação a Distância (EAD). “Não à toa, tivemos um boom na procura por disciplinas EAD entre os alunos da Unifor. Isso porque as aulas remotas vieram diminuir ainda mais o preconceito que ainda existia com os processos formativos virtuais, demonstrando sua eficácia. Em ambos os casos, é exigido maturidade por parte do aluno para que ele conduza de forma autônoma o seu próprio percurso educacional, mas no caso da EAD é a maior flexibilidade de horários e a inexistência dos encontros síncronos que vêm aumentando a procura por parte do corpo discente estimulado a exercitar cada vez mais sua autonomia”, considera.   

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