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Ter, 8 Dezembro 2020 11:18

Entrevista Nota 10: os benefícios da mastigação adequada para a Fonoaudiologia

Autoras do e-book “Você vai mastigar o quê?”, a professora Denise Klein e a estudante Catharyna Nobre destacam a influência de uma boa alimentação no processo de mastigação


A professora Denise Klein e a aluna Catharyna Nobre desenvolveram o e-book educativo
A professora Denise Klein e a aluna Catharyna Nobre desenvolveram o e-book educativo "Você vai mastigar o quê?" (Fotos: Arquivo pessoal)

“Você é o que você come”. Quem já não ouviu essa frase e repensou sua alimentação diária? O fato é que uma dieta rica em alimentos saudáveis influencia também na mastigação, deglutição, fala e respiração. 

Para a professora Denise Klein e para a estudante Catharyna Nobre, ambas do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, comida é coisa séria. Juntas, elas assinam a autoria do e-book “Você vai mastigar o quê?”, que aborda de forma educativa o papel da mastigação e da alimentação saudável, valorizando a cultura nordestina. A obra também conta com a participação da professora do curso de Nutrição da Unifor, Virgínia Oliveira, especialista em Educação em Saúde. 

Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, a especialista em motricidade orofacial e a futura fonoaudióloga ressaltam os impactos positivos de uma mastigação eficiente para o desenvolvimento das crianças. Confira a seguir:

Entrevista Nota 10 - Como nasceu a ideia do e-book? E por quê?

Denise Klein - A ideia foi fruto de ricas experiências obtidas no Programa de Extensão Ação integrada Fonoaudiologia e Odontologia na clínica infantil, com a parceria entre estes cursos. Com o acompanhamento fonoaudiológico, as crianças e seus pais recebem orientações sobre as funções orofaciais: a mastigação e alimentações saudáveis, deglutição, fala e respiração. Surgiu, então, o interesse na produção de um livrinho, de forma interdisciplinar, sendo desenvolvido como trabalho de conclusão de curso da aluna Catharyna Nobre, que prontamente abraçou a ideia. Nosso interesse é poder auxiliar crianças, pais, cuidadores, profissionais fonoaudiólogos e de áreas afins, instituições escolares, entre outros, desenvolvendo rotinas e hábitos alimentares saudáveis, através de uma mastigação e alimentação eficientes. No livrinho o narrador é uma criança que conta sua história, desde a amamentação até seus hábitos alimentares nordestinos saudáveis em seu meio familiar, social e escolar.

Catharyna Nobre - A minha escolha em produzir um material educativo se deu das minhas vivências dentro da Fonoaudiologia. Pude participar de grupos de extensão com a professora Denise, que foi a minha orientadora, onde utilizamos diversos materiais para conscientizar nosso público-alvo, as crianças, bem como da minha atuação em um projeto interprofissional, Pet-saúde, nas unidades básicas de saúde. Diante disso, abracei a ideia da elaboração do livrinho, que seria desenvolvido a partir dessas experiências vivenciadas no contexto da motricidade orofacial; por isso o tema mastigação. Era notório a quantidade de crianças que chegavam até nós com dificuldades alimentares, na função mastigatória e devido a isso decidimos fazer o material voltado a este tema.

Entrevista Nota 10 - Qual foi a receptividade? Já deu para sentir?

Catharyna Nobre -Todos os profissionais da Unifor envolvidos, foram muito receptivos. Desde o momento da produção do material fui acolhida por diversos cursos e setores dentro da universidade. O curso de Fonoaudiologia, os professores envolvidos e alunos acolheram tão bem o livrinho, como elaboração de um material nosso, com tantos recursos e características diferentes, chamando bastante atenção.

Entrevista Nota 10 - Por que a escolha por alimentos da gastronomia nordestina?

Denise Klein - Para valorizarmos nossos alimentos regionais ricos em fibras, vitaminas tão “raiz” e perto de nós nordestinos, a exemplo: acerola, caju, manga, mandioca, jerimum, milho.

Catharyna Nobre - A escolha por alimentos da nossa gastronomia se deu quando começamos a analisar as possibilidades da criação do material e verificar que não havia materiais que se aproximasse da nossa realidade. O que havia era sempre alimentos diferentes, com custo alto e de difícil acesso. Por meio disso, surgiu a vontade de aproximar a produção à nossa realidade. O Nordeste é rico na culinária, mas não há visibilidade desejável nesse tipo de material. Então, a possibilidade de contribuir para o reconhecimento da nossa culinária, dos alimentos da nossa terra, que são de fácil acesso, mais baratos e ricos em nutrientes, é bastante gratificante.

Entrevista Nota 10 - Há uma parte do e-book com literatura de cordel. Qual o objetivo dessa iniciativa?

Denise Klein - A Unifor, que tanto valoriza a arte e a pluralidade cultural, viabilizou, recentemente, a Cordelteca. Então por que não aproveitarmos dessa riqueza cultural que é o Cordel, e que já faz parte da nossa instituição? É um poema popular e bastante presente na cultura nordestina, conhecido como “folheto de feira”. Uma linguagem fácil que favorece o aprendizado lúdico das crianças, pela rima das palavras.

Catharyna Nobre - Com a iniciativa da utilização de alimentos nordestinos, o interesse em valorizar cada vez mais nossa cultura crescia então surgiu a possibilidade da utilização do cordel. Na época da construção da ideia a universidade estava promovendo oficinas de cordel, com o professor Paiva Neves, um grande cordelista cearense, lançou a cordelteca, então a possibilidade de reconhecimento da nossa cultura e a valorização dela foram fundamental para abraçarmos essa ideia.

Entrevista Nota 10 - O e-book é fruto de uma parceria dos cursos de Fonoaudiologia, Nutrição e Publicidade. Como foi participar dessa parceria? E como você avalia os resultados dessa parceria?

Denise Klein - A parceria dos cursos foi de extrema importância e valor, tendo em vista a plena inter-relação das atuais competências para o século XXI: cognição, colaboração, comunicação e cidadania. Nossa parceria possibilitou desenvolvermos um produto criativo e inovador, integrando ricas experiências coletivas na construção do saber compartilhado, e contribuindo diretamente com a sociedade. 

Catharyna Nobre  - A interprofissionalidade está bastante presente na minha graduação. Sempre tive o conhecimento que as outras áreas são fundamentais para entender o indivíduo com um todo. Então seria impossível falar de mastigação sem envolver a questão nutricional, hábitos alimentares, higiene oral, entre outros aspectos abordados. Tanto a nutrição quanto a publicidade receberam meu projeto e da professora Denise com muito carinho. Participaram e se engajaram de uma maneira incrível, me auxiliaram bastante. Sem eles esse e-book não seria tão rico quanto é. O professor Diego e a professora Virgínia fizeram um trabalho excelente e só tenho agradecimentos a fazer a eles.

Entrevista Nota 10 - Qual a importância da mastigação adequada no combate aos distúrbios fonoaudiológicos?

Denise Klein - Uma mastigação eficiente favorece o crescimento e desenvolvimento orofacial, aumentando a força da musculatura da face, os movimentos e a articulação da boca, a erupção dos dentes, bem como possibilita experiências sensoriais e gustativas, tão relevantes no desenvolvimento das crianças. É uma função muito evidenciada por nós Fonoaudiólogos.

Entrevista Nota 10 - Hoje, as crianças começam a comer alimentos e bebidas industrializados muito mais cedo. Até que ponto isso contribui para o surgimento de distúrbios fonoaudiológicos?

Denise Klein - Os alimentos ultraprocessados além de serem artificiais e prejudiciais à saúde, interferem nos bons hábitos alimentares das crianças. Estas, selecionam o querem comer e têm grandes dificuldades em experimentar alimentos novos. Isso poderá gerar dificuldade na mastigação, bem como em outros comprometimentos fonoaudiológicos como na deglutição, respiração e na fala. Atualmente, os Guias alimentares do Ministério da Saúde, tem como propósito maior, a promoção da alimentação adequada e saudável, com uma abordagem centrada na alimentação como “comida de verdade”, in natura.

Entrevista Nota 10 - Catharyna, por que você escolheu fazer fonoaudiologia?

Catharyna Nobre - A Fonoaudiologia caiu de paraquedas na minha vida. Tive conhecimento por meio da educação bilíngue com um curso de Libras e fiquei apaixonada por esta área que cuida da nossa comunicação, de forma tão linda. Dentro do curso pude ver que a área de Fonoaudiologia é muito mais ampla do que apenas comunicação, e desde este momento, o curso me ganhou da forma mais linda que existe.

Entrevista Nota 10 - Na sua visão, quais os principais diferenciais do curso de fonoaudiologia da Unifor?

Catharyna Nobre - Escolhi a Unifor porque nela sabia que encontraria um curso completo, desde a matriz curricular e docentes, com uma formação excepcional, até o suporte aos alunos pela coordenação. Temos o NAMI, clínica escola, que proporciona infinitas oportunidades de estágio. Temos desde o início do curso a possibilidade de vivenciar as experiências da Fonoaudiologia na prática. Temos projetos interprofissionais, grupos de estudos, Programas de extensão, ligas acadêmicas, empresa jr, dentre outros. Vejo que isso me auxilia a aproveitar todos os momentos da graduação e ter as melhores oportunidades de conhecimento.

Entrevista Nota 10 - Quais os seus planos após a conclusão do curso?

Catharyna Nobre  - Meus planos ainda são meio incertos, mas eu pretendo atuar na área de linguagem, nesta área de motricidade orofacial, na qual desenvolvi meu trabalho, atuando com crianças com dificuldades alimentares e contribuindo com todo o meu conhecimento, para ajudar essas crianças que buscarão a Fonoaudiologia. Pretendo futuramente fazer mais produções de materiais educativos, sempre buscando atuar de forma interprofissional e valorizando a nossa cultura nordestina.