null Entrevista Nota 10: Polianna Lemos e o êxito da campanha Doe de Coração 2020

Qui, 1 Outubro 2020 16:12

Entrevista Nota 10: Polianna Lemos e o êxito da campanha Doe de Coração 2020

Coordenadora da campanha, a médica destaca os resultados positivos da iniciativa realizada pela Fundação Edson Queiroz


Polianna Lemos, professora do curso de Medicina da Unifor, coordenou a campanha Doe de Coração 2020 (Foto: Ares Soares)
Polianna Lemos, professora do curso de Medicina da Unifor, coordenou a campanha Doe de Coração 2020 (Foto: Ares Soares)

À frente da campanha Doe de Coração deste ano, Polianna Lemos, professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, revela os bons resultados obtidos pela iniciativa que estimula a solidariedade e o amor ao próximo. 

Para a médica nefrologista, a doação de órgãos e tecidos enfrenta como principal tabu a ausência de comunicação entre os potenciais doadores e as famílias. Impasse este que a campanha Doe de Coração, disseminando informações de qualidade, contribui eficazmente para solucionar e promover a mudança de comportamento da sociedade. 

Mesmo com os desafios da pandemia de Covid-19, a 18ª edição da Doe de Coração alcança seu objetivo com êxito: os novos números já apontam o aumento de doações em relação ao ano passado. Confira a seguir entrevista com a médica Polianna Lemos: 

Entrevista Nota 10 - Professora, uma matéria recente do Portal G1 mostrava que o número de doações de órgãos caiu 6,5% no Brasil durante o primeiro semestre de 2020 em decorrência da pandemia de Covid-19. Diante do atual contexto, qual a importância de falarmos sobre doação?

Polianna Lemos - Durante a pandemia de Covid-19, todo o cenário da saúde foi afetado devido ao enorme quantitativo de pacientes graves requererem pronto atendimento e cuidados intensivos. Muitos desafios surgiram no contexto da doação de órgãos: (1) A ocupação dos leitos de terapia intensiva por pacientes graves com insuficiência respiratória secundária à Covid-19, (2) as restrições dos potenciais doadores pelo risco de contaminação dos receptores pelo vírus, (3) menor número de potenciais doadores causado pela diminuição de causas externas de óbito devido ao isolamento social, (4) queda das notificações de potenciais doadores pelo fato dos serviços estarem voltados para resolução da pandemia, (5) dificuldade de acesso às famílias de possíveis doadores por medo de se deslocarem aos hospitais e (6) prejuízo da logística de transporte de órgãos pela suspensão de voos.

Entrevista Nota 10 - Sabemos que o Ceará é referência em transplante de órgãos e tecidos, mas também teve seu índice afetado. Como essa situação tem sido conduzida?

Polianna Lemos - O Ceará sempre teve um papel de relevância na doação de órgãos no país. Porém, o Estado foi muito atingido pela pandemia e muitos potenciais doadores testavam positivo para o Covid-19 – 27% destes potenciais doadores, segundo registro brasileiro de transplantes e Secretaria de Saúde do Estado. Contudo, o Ceará foi o primeiro a estabelecer a testagem para Covid-19 (RT-PCR) em potenciais doadores, medida posteriormente estabelecida pelo Ministério da Saúde.

Entrevista Nota 10 - Para quem tem interesse, o que é preciso para se tornar um doador?

Polianna Lemos - O mais importante é conversar sobre o assunto com a família, manifestando seu desejo de doar. A família tende a respeitar o desejo do doador, sendo este o maior obstáculo que limita a doação (cerca de 50% dos casos). 

Entrevista Nota 10 - De que forma o Movimento Doe de Coração tem mostrado seu compromisso com a saúde da sociedade, ao longo dos anos de realização?

Polianna Lemos - Desde o início do Movimento a discussão aberta com as famílias e a conscientização da sociedade vem rompendo o principal tabu: DESINFORMAÇÃO. A doação de órgãos só será feita com a autorização da família.

Entrevista Nota 10 - Qual foi foi o balanço da Doe de Coração 2020? A campanha conseguiu alcançar seus objetivos?

Polianna Lemos - O balanço da campanha deste ano foi super positivo, uma vez que a gente transformou todas as dificuldades do cenário da pandemia em oportunidades para a gente inovar. Desde o início, sabendo do quanto a gente precisava ser inovador, elaboramos lives, planejamos os instagramáveis, inclusive com espaços delimitados para que as pessoas pudessem fazer as fotos nos self-points, sempre oferecendo o álcool em gel. Então, atrelamos a questão da segurança porque a pandemia traz essa obrigatoriedade, mas também usamos isso a nosso favor trazendo informação, tocando nessa questão da generosidade. Então, acredito sim que foi uma campanha na qual as dificuldades deram espaço para novas oportunidades. E em relação aos números, eles foram muito animadores e nós já sabemos que o número de transplante aumentou bastante. Nós tivemos muitas doações e muitos transplantes ao final do mês. A curva de comportamento de doações desse mês já apontava um número maior do que no mês de janeiro anterior à pandemia. 

Entrevista Nota 10 - Que mensagem a Doe de Coração deixa para quem quer se tornar um doador?

Polianna Lemos - Para aquelas pessoas que desejam ser doadoras de órgãos e tecidos, que conversem com a sua família porque a negativa familiar ainda é uma grande barreira. A questão da comunicação vai ser o pilar. Por meio da conversa a gente consegue esclarecer e quebrar todos esses tabus. Os profissionais de saúde também se apropriaram dessa questão para que a gente fosse capaz de comunicar às famílias doadoras e aos serviços responsáveis pelos transplantes, que são as comissões intra hospitalares. A comunicação é muito importante, seja entre os profissionais de saúde e a família, seja entre aquele indivíduo que quer doar e os familiares, enfim, toda a sociedade. Nós trouxemos a informação e já colhemos os frutos da conscientização, dessa mudança de atitude da sociedade. Desde já, parabenizo a campanha e o grande papel na divulgação para as pessoas.