Meu primeiro emprego: lições para quem vem depois

qui, 18 junho 2020 18:04

Meu primeiro emprego: lições para quem vem depois

Conheça histórias de jovens que trilham carreiras profissionais de sucesso e aprendizado contínuo


A advogada Isadora Pimentel Sombra, formada em Direito pela Universidade de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)
A advogada Isadora Pimentel Sombra, formada em Direito pela Universidade de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)

O trabalho como espelho da virtude, caminho para o reconhecimento pessoal no coletivo, fonte de prazer e realização. Trabalhar com aquilo que se gosta e imprimir sentido aos dias de labuta são desafios comuns a quem busca um propósito na vida por meio de fazeres e saberes tidos como úteis e necessários ao progresso da humanidade. Portanto, vamos ao trabalho: como os egressos da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, têm iniciado essa jornada humana que é a um só tempo profissional e existencial? Quais as surpresas e lições que o primeiro emprego reserva aos que estão ávidos para aplicar na prática o arsenal cada vez mais diversificado de conhecimentos técnico-científicos adquiridos durante o período de formação acadêmica?  

O “corre” nosso de cada dia

Na Torre de Babel onde nascem as gírias, “fazer um corre” significa correr rapidamente atrás de um objetivo, na tentativa de realizar uma tarefa. E é assim que a juventude hiperconectada, que tem a velocidade como lema, costuma se referir aos “trampos”, ou melhor, aos trabalhos que lhes exigem dedicação e tempo, além de suor. O primeiro emprego é, portanto, o “corre” de maior “responsa”, aquele que a um só tempo fascina e espanta quem ingressa no mercado de trabalho formal, justo porque vem dele o premente desafio de colocar à prova expertises e habilidades esculpidas em décadas de processos formativos. 

De “corre” em “corre”, não há quem duvide: para assumir o controle da própria vida e sentir na pele a experiência de contribuição para a transformação social é preciso não só recorrer ao trabalho como dar centralidade a ele tão logo as primeiras oportunidades no mercado formal ou informal apareçam. Foi o que cedo percebeu a hoje advogada Isadora Pimentel Sombra, 30, egressa do curso de Direito da Universidade de Fortaleza, ela que, desde o início da graduação, buscou estágios nos âmbitos público e privado e já saiu da faculdade empregada, para dar início, em paralelo, ao próprio negócio. 

O amplo leque de oportunidades que a carreira jurídica oferece não demorou a se fechar. “Quis estagiar logo nos primeiros semestres justamente porque não sabia exatamente em que área do Direito eu queria atuar. O primeiro estágio foi na Defensoria Pública e dois anos depois estagiei em um escritório de advocacia particular. Nesse ínterim, já tinha me decidido por advogar, muito por conta da empolgação contagiante dos meus professores advogados, que contavam sobre seus casos e processos em sala de aula. Aquele universo da advocacia onde a cada dia você é desafiado por uma causa diferente, ora relacionada ao direito do consumidor, ora à vara da família, ora de caráter criminal ou trabalhista, me conquistou e a partir dali fui cavar meu primeiro emprego exatamente aonde eu queria focar”, conta. 

Do escritório Rocha Marinho e Sales, em 2015, veio o primeiro contrato da jovem advogada que ganharia por produção, sem a necessidade de cumprir expedientes rígidos de trabalho. A flexibilidade de horários fez valer o passo seguinte: ao mesmo tempo em que desenvolveu competências e se dedicou a captar clientela, Isadora fundou ali as bases para abrir o próprio escritório de advocacia. No ano seguinte, dupla virada: passou a atuar como coordenadora jurídica do setor cível do escritório Almeida Abreu Advocacia e, em paralelo, firmou sociedade com Ingrid Farias, amiga advogada, também egressa da Unifor, com quem hoje divide o trabalho de consultoria no Sombra e Farias Advogados Associados. 

“Eu e minha sócia estudamos juntas desde o primeiro semestre na Unifor e a identificação foi imediata, principalmente nas disciplinas onde exercitamos o poder de argumentação crítica e o debate público. O Curso de Direito agrega a vantagem de ser muito procurado e formar turmas com muitos alunos, o que aumenta a oportunidade de conhecer pessoas e cedo firmar parcerias com quem tem os mesmos objetivos que você. Foi o que aconteceu comigo e Ingrid. Outro orgulho que tenho como coordenadora do setor cível do escritório Almeida Abreu é ter hoje, na minha equipe de trabalho, dois estagiários do Direito da Unifor. Sem medo de errar, digo que essa dupla se destaca e se diferencia pela qualidade do trabalho e do repertório que trazem. Aprendo muito com ambos e nesse momento de isolamento social, em particular, tem sido preciosa a colaboração deles no que se refere ao uso das ferramentas digitais para a otimização do trabalho”, credita Isadora.

Com dupla jornada, ora prestando consultoria no próprio escritório, ora terceirizando o trabalho, Isadora chama atenção para uma escolha reiterada: tornar-se uma advogada militante, aquela que não cansa de estar todos os dias no fórum em busca de clientes, presente nas audiências ou próxima aos juízes durante o trâmite de cada processo. Nesse “corre”, também tem sido incontornável, para ela, o enfrentamento de preconceitos. “Infelizmente, em pleno século XXI, ainda há um olhar de desconfiança direcionado a jovens advogadas mulheres. É preciso saber se impor diante de clientes que querem muitas vezes nos colocar à prova, assim como junto a colegas advogados da parte contrária ou mesmo magistrados e servidores veteranos que subestimam sem razão ou descredenciam os novatos ou as colegas de profissão”, alerta.

 Imparcialidade é outra lição sempre revisada. Ao lidar com razões e emoções díspares, reguladas por leis, o Direito, em particular, deve buscar equilíbrio e evitar a passionalidade dos juízos de valores. “Por ter afinidade com o Direito da família, me envolvo muito com as questões ligadas à guarda dos filhos em casos de separação. Essa luta pelo direito à pensão alimentícia já me fez inclusive dizer não a um cliente homem que queria que nós o defendêssemos simplesmente porque achava que a ex-mulher e os avós maternos podiam manter financeiramente seus filhos, sem a necessidade da sua contribuição. No caso, o pai queria deixar de pagar pensão. E por discordar dele eu disse que não ia poder defendê-lo. Dizer não, em casos assim, tem a ver com maturidade profissional e pessoal. Saber dizer não quando você não acredita na tese do cliente, como também porque ali existe uma lei que precisa ser cumprida, não é agir emocionalmente. É que não há dinheiro que valha a defesa do descumprimento de uma lei”, aferra. 

Estagiária da equipe de advocacia de Isadora, Karen Silva Pinheiro, 21, interpreta cada tese ou argumentação da coordenadora como princípios norteadores de valor inestimável para sua futura prática. Cursando o 5º semestre em Direito na Universidade de Fortaleza, ela tinha 19 anos quando começou a estagiar, levada, sobretudo, pela instabilidade financeira da família, que não tinha como arcar com o custeio integral do ensino privado. “No terceiro semestre tive acesso ao FIES e também ao primeiro estágio remunerado e assim comecei a pagar as parcelas da graduação na Unifor. Mas não é só por isso que defendo a importância de estagiar desde o primeiro semestre. É por funcionar como complemento do que vejo em sala de aula mesmo. Minhas notas melhoraram, meu aprendizado se tornou bem mais rápido e meu desempenho, tanto na universidade como no trabalho, é outro em termos de qualidade. E sei que tudo isso também vai me dá muito mais confiança e competência na hora de assumir o primeiro emprego”, comemora Karen.

A arte de gerir crises

Entre o feijão e o sonho, Bruno Cardoso Mantini Marques, 30, sempre preferiu apostar nos dois. Por isso, desde 2017, quando ingressou no curso de Administração da Universidade de Fortaleza, abraçou cada oportunidade de estágio oferecida internamente. A vaga na Divisão de Assuntos Desportivos, que também o levou a fazer cursos complementares, como o de Protagonismo de Carreira, foi só o começo de uma história de obstinação em busca de um trabalho que não lhe soasse meramente protocolar, forjando-se, ao contrário, como um agente de mudança de consciência. 

“Abriu a minha mente entender que, ainda enquanto estudante universitário, deveria pensar de forma direcionada e cedo focar nos meus objetivos, tomando pé da condução da minha vida profissional. Passei a sonhar mais alto a partir dali e buscar vagas mais desafiadoras”, recupera o ex-estagiário padrão, que ainda passou pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), albergado na Central de Carreiras da Unifor, até garimpar ali, entre inúmeras possibilidades, o primeiro emprego ideal.  Ele veio ainda como estágio, através da multinacional DSM, que faz parte da Associação de Empresas do Complexo Industrial do Pecém. “O processo seletivo era bem concorrido e na primeira fase analisamos diferentes cenários que demandavam mudanças, tendo que apresentar possíveis soluções ali, de bate-pronto. Depois veio a entrevista, onde acho que o mais importante foi demonstrar empatia, inteligência emocional e capacidade criativa. Fiquei como estagiário ligado diretamente ao gerente da fábrica por um ano. E me destaquei. Tanto que, mesmo em meio à pandemia, acabei sendo contratado como assistente administrativo. Foi uma surpresa muito feliz”, comemora o egresso da Unifor que põe a mão no canudo até o final de 2020.  

Tão desafiador quanto próspero, o primeiro emprego formal lhe chega, no entanto, com reservas. Dado o isolamento social e as medidas de biossegurança impostas pelo novo coronavírus, Bruno viu o cotidiano de trabalho mudar completamente com a adoção do home office em esquema de rodízio pela empresa que, pela própria natureza cosmopolita dos negócios, costumava atrair para o Porto do Pecém fornecedores e parceiros de diversos países do mundo. “Dormi estagiário e acordei contratado, mas até agora não pude sequer abraçar meu gerente nem apertar a mão dos colegas. Antes, na minha sala, eram umas dez pessoas trabalhando juntas, agora não mais que três, mantendo toda a distância. Todos os que se revezam entre o trabalho remoto e o presencial usam máscaras e ninguém entra em outro ambiente sem lavar as mãos e usar álcool em gel. Desde abril trabalho assim, praticamente sozinho e mascarado nesse lugar que já é uma ilha em si, distante uma hora e 40 minutos de Fortaleza. Mas, devo confessar, apesar de tudo, por trás da máscara existe um sorriso aqui de orelha a orelha, viu?”, admite o novato administrador.         

Para Bruno, diante das constantes mudanças que o mundo corporativo normalmente enfrenta, o impacto causado pela crise econômica que também se avizinha na esteira do novo coronavírus é hoje o principal e incontornável desafio a ser enfrentado. “Com os gastos que a empresa já vem acumulando por conta da biossegurança necessária ao combate da disseminação da Covid-19 penso que deveremos estar muito focado no replanejamento de custos nos vários setores da fábrica, de forma que possamos diminuí-los ao máximo para dirimir os prejuízos, já que estamos conseguindo manter o ritmo de trabalho, mas o lucro, claro, já não é o mesmo. E o mais importante, penso eu, é que só sairemos dessa crise se criarmos empatia e cuidarmos prioritariamente da relação com os fornecedores e parceiros, já que as pessoas são os maiores ativos da empresa”, opina.  

Para atravessar a crise, acrescenta o assistente administrativo da DSM, todo um alinhamento que já está em curso - e vai do uso permanente de máscaras até o aumento da frota de ônibus para o deslocamento de funcionários que precisam manter-se seguramente distantes - precisará virar regra. E isso, ele acredita, vai fluir melhor naquelas empresas que contam com bons líderes, capazes de conduzir as equipes rumo a um crescimento profissional por meio do desenvolvimento de competências imprescindíveis ao momento. “As questões contemporâneas que abrangem a liderança já vem nos exigindo novos paradigmas para lidar com os impactos dos processos de mudança. E acho que as empresas cada vez mais identificam a necessidade de que seus colaboradores possuam habilidades para além das técnicas, algo muito mais atrelado talvez à personalidade e às experiências, para além da formação, como, por exemplo, a inteligência emocional, o relacionamento interpessoal e a comunicação criativa. É o que venho captando internamente, então fica como dica para os que irão ingressar no mercado de trabalho em meio a esse novo e complexo cenário pós-pandemia”, alerta Bruno.

Criar é preciso

Reunião por live, brainstorm por grupo de whatsapp e todo um potencial criativo agora posto à prova a distância. O isolamento social imposto pelo novo coronavírus não traz insegurança nem gera dificuldades no trabalho da publicitária Giovanna Castro, 25, que hoje coordena a equipe de criação na Agência Delantero. Para ela, o mais desafiador e empolgante do cotidiano profissional, há muito tem sido treinar pessoas para estagiar quando surgem novas vagas. E é isso que, dadas as contingências, não tem podido vivenciar a contento, mas espera retomar tão logo o chamado novo normal dite novas regras de relacionamento nos ambientes de trabalho fechados.

Egressa do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza, o gosto por ver desabrochar talentos está diretamente ligado a sua própria experiência de formação e ingresso no mercado publicitário. Foi ainda como estudante que, através do Núcleo Integrado de Comunicação (NIC), agência experimental dos cursos de Comunicação Social, ela foi treinada para encarar as demandas de criação que diariamente põem à prova a verve publicitária. De lá, saiu encorajada para passar por diferentes estágios até alcançar o objetivo de enfim ser contratada para assumir campanhas publicitárias que, em pouco tempo, já lhe renderam prêmios nacionais de peso, como o Profissionais do Ano da Rede Globo, El Ojo, Ranking Lürzer's Archive e Prêmio Lusófonos. 

“Desde o início, aproveitei todas as oportunidades  oferecidas na Unifor. Fui monitora voluntária e bolsista por dois anos na cadeira de Redação Publicitária, participei de grupo de pesquisa e me dediquei muito ao aprendizado prático na Agência do NIC. Lá, criei meu primeiro portfólio de redatora e isso funcionou como um teaser do mercado. Até que, durante um curso de redação publicitária ministrado por um dono de agência, fui convidada por ele estagiar: era o primeiro remunerado. Depois, estagiei na agência em que trabalho atualmente e acabei sendo contratada, em 2017. Os donos da agência são da criação e eu já conhecia o trabalho deles através dos eventos que a Unifor proporcionava. Então, veja a importância da universidade não só na minha formação como na abertura de portas para o mercado. É tanta que até hoje tenho contato com meus professores e são eles que me indicam os estagiários que irei treinar na Delantero, sabendo que ali encontrarei talentos já lapidados”, elogia Giovanna.

O afago de quem hoje recebe de braços abertos os novatos não vem sem um choque de realidade. “Quem passou pelo NIC e Unifor sabe: o mercado publicitário tem sim um ambiente descontraído, leve, onde há flexibilização no trabalho. Mas independente do lugar ou da equipe com a qual você trabalha, é preciso encarar como um trabalho que remete a esforço, então vão ter dias mais difíceis sim e com mais pressão. O que mais me ajudou no início e continua ajudando até hoje é ter brio pelo que você faz. Enxergar a oportunidade não só como um emprego, mas como uma carreira. Sua entrega é pelo seu nome e não só pela empresa. E sua carreira já começa na faculdade, ou seja, se você se destaca lá dentro o primeiro contrato não demora, porque os próprios professores indicam e permanecem colaborando e vibrando conosco. Foi assim comigo e considero um privilégio esse estímulo inicial dado pela Unifor”, afirma. 

Do NIC para a equipe de criação da Slogan Propaganda, uma das maiores agências locais. Jéssica Sousa Gonçalves, 26, costuma dizer que a coragem de bater à porta dos profissionais sêniors com seu portfólio embaixo do braço veio dos anos em quem, ainda como estudante na Universidade de Fortaleza, adquiriu não só experiência, mas segurança para enfrentar o competitivo e restrito mercado de trabalho publicitário. “O curso de Publicidade exige prática e na Unifor temos toda uma infra-estrutura voltada para isso: o NIC é uma agência completa, com clientes de verdade, e somos acompanhados por professores que conhecem de perto o mercado publicitário. Fiquei lá um ano como voluntária, logo que entrei na faculdade e oito meses como bolsista. De lá, estagiei em duas agências. No último semestre, em 2016, entrei como estagiária da Slogan e estou lá até hoje, sabendo que devo muito meu primeiro bom emprego à qualidade da minha formação”, sustenta.

Os contratantes que reconheceram o potencial da estagiária hoje já entregam em suas mãos grandes campanhas publicitárias, o ouro da agência. E Jéssica quer continuar fazendo jus à confiança. Trabalhando em home office desde o início da pandemia, assim como seus pares da Slogan, ela leva adiante o que já via como uma tendência em curso: “o futuro da publicidade nesse novo normal que ainda se desenha vai ser o que era antes mesmo, quer dizer, o digital. Muitos clientes já estão gastando mais com anúncios em redes sociais e são eles que mesmo em meio à crise se mantém estáveis. Portanto, quem estiver chegando tem que dominar com eficiência e criatividades essas ferramentas e esse novo modo de pensar e criar virtualmente”.