null A esperança nas mãos de quem cuida

Qua, 15 Setembro 2021 09:40

A esperança nas mãos de quem cuida

Profissionais da saúde são personagens essenciais no processo de transplante de órgãos, proporcionando esperança aos pacientes que buscam uma nova oportunidade de vida


Médicos e enfermeiros, além de desempenharem as habilidades técnicas no transplantes de órgãos, também assumem o papel de educadores sobre o assunto na sociedade. (Foto: Getty Images)
Médicos e enfermeiros, além de desempenharem as habilidades técnicas no transplantes de órgãos, também assumem o papel de educadores sobre o assunto na sociedade. (Foto: Getty Images)

O ato de doar carrega em seu âmago o conceito da solidariedade como fator indissociável de sua existência. Quando esse gesto voluntário é combinado com a oportunidade de salvar vidas e transformar a dor em perspectiva de recomeço, é aí que, de fato, encontramos a definição da experiência de doar órgãos. Pensando nisso, o movimento Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz (FEQ), acontece anualmente em setembro com o intuito de conscientizar as sociedades civil e profissional sobre a importância de ser um doador e de levantar a discussão sobre o transplante de órgãos e tecidos.

Para Janaína Ramalho, coordenadora do Doe de Coração e docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza ‒ instituição de ensino superior mantida pela FEQ ‒, a realização anual da campanha é um ponto fundamental no sucesso do esclarecimento sobre o assunto: “A cada ano a mobilização tem a oportunidade de sensibilizar mais e mais pessoas para a causa, tanto do público geral quanto entre os profissionais de saúde”.

A nefrologista ressalta que nesta 19ª edição, a Doe de Coração irá homenagear os trabalhadores da saúde que se destacaram na área de transplantes durante a pandemia de Covid-19, em 2020. “Reconhecer a importância do trabalho dessas pessoas é também uma  maneira de engajar mais profissionais nessa corrente”, reflete Janaína sobre o tributo, que é uma iniciativa da Fundação e da Universidade para com o trabalho e a dedicação dessa classe.


Janaína Ramalho é coordenadora do movimento Doe de Coração e docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza. (Foto: Ares Soares)

Responsáveis por todo o processo de transplante de órgãos ‒ desde a divulgação e educação sobre o tópico, passando pela abordagem à família do(a) doador(a), o procedimento cirúrgico e até o pós-operatório ‒, os profissionais da saúde são personagens basilares dentro dessa missão pela vida. Eles precisam passar por uma “jornada do herói”, quase à la Joseph Campbell, com o intuito de alcançar a capacitação e competência necessárias para realizarem procedimentos tão delicados e com alto nível de especialização.

“A campanha [Doe de Coração] é também uma oportunidade de chamar a atenção para a necessidade de ter profissionais capacitados nesse processo”, pontua Janaína. Ela afirma que o espaço da Universidade tem um papel importante na formação acadêmica e profissional desses especialistas da saúde, principalmente por também terem um papel de educadores em seus campos de atuação e de sensibilizar outras pessoas para a causa.

Chamado para a vocação


Silvia Fernandes é farmacêutica, professora titular da Universidade de Fortaleza e tutora do curso de Medicina. (Foto: Ares Soares)

A Dra. Silvia Fernandes, professora titular da Universidade de Fortaleza e tutora do curso de Medicina, conta que, há 19 anos, a instituição tem uma participação ativa na formação de estudantes da área com a Doe de Coração. Farmacêutica de profissão, ela vê o lançamento anual do movimento como uma das atividades que complementam o processo acadêmico ao realizar ações virtuais com amplo alcance à população e palestras que atualizam informações aos alunos sobre o processo doação-transplantes de órgãos.

Ao longo de seu desenvolvimento nos estudos, os discentes têm a chance de conhecerem a área de atuação de seus professores, principalmente dentro das ciências médicas. Silvia exemplifica que “esse conhecimento pode despertar [no estudante] o interesse de se especializar nas diferentes áreas que realizam transplantes de órgãos e tecidos em nosso Estado, tais como a nefrologia, hematologia, cardiologia, pneumologia, cirurgia, hepatologia, oftalmologia etc”.

Uma das principais ferramentas que o curso de Medicina dispõe para a formação de futuros médicos, conscientes e engajados com a causa sobre transplantes, são as ligas acadêmicas. Silvia declara que as ligas realizam cursos e convidam profissionais para falarem sobre o tema. “Além disso, participam ativamente das campanhas de doação de órgãos. Como a última [em 2019], que a Central de Transplante do Ceará realizou no Parque do Cocó com o apoio do Marketing da Unifor, onde várias ligas do curso de Medicina, todos com a blusa da campanha Doe de Coração, participaram do evento. Foi simplesmente um sucesso”, ela relembra.

Iniciando a jornada


Ingrid Sarmento Guedes é aluna do curso de Medicina e presidente da Liga de Nefrologia Clínica e Transplante Renal (LINETx). (Foto: Ares Soares)

Ingrid Sarmento Guedes reforça o discurso da professora Silvia ao pontuar as ações de caminhadas, tira-dúvidas sobre educação em saúde para a população e a divulgação da Doe de Coração em suas próprias redes sociais que os alunos das ligas acadêmicas realizam. A estudante do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza é também presidente da Liga de Nefrologia Clínica e Transplante Renal (LINETx) e conta que o transplante de órgãos foi uma área da saúde que sempre a atraiu. Não somente pela tecnologia e habilidade dos profissionais envolvidos na doação, mas também pela possibilidade de salvar outras pessoas e de melhorar a qualidade de vida delas a partir de um ato solidário.

“Partindo dessa impressão, sempre fiz questionamentos sobre como posso doar e busquei compreender o que envolve essa decisão, pois, como estudante de medicina, o seguimento da vida de outras pessoas é importante para mim. Durante acompanhamentos, vivenciei diversas vezes o trabalho de profissionais responsáveis por conversar com familiares em situação de luto recente para explicar a importância da doação de órgãos. Entretanto, acima de qualquer coisa, o respeito à decisão familiar e às suas crenças é, impreterivelmente, levado em consideração”, revela.

A presidente da LINETx explica que o transplante de órgãos ainda levanta diversos tabus e mitos em nossa sociedade. Por essa razão, disseminar o conhecimento acerca do tema é dever de todos os profissionais de saúde, segundo ela. “Para isso, então, é indubitável a relevância do desenvolvimento desse assunto durante a formação acadêmica”, conclui Ingrid.

Fortalecendo as habilidades


A professora Kiarelle Penaforte é enfermeira e coordenadora da graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza. (Foto: Ares Soares)

Outra especialidade da saúde de extrema importância para o processo de transplante de órgão e tecidos é a enfermagem. “É inquestionável a contribuição do enfermeiro para o sucesso do transplante. Essa assistência de alto nível envolve tanto os candidatos e receptores de transplantes, quanto a seus familiares ou cuidadores, e um dos grandes desafios após o transplante é a continuidade do tratamento fora do ambiente hospitalar”, esclarece a professora Kiarelle Penaforte, coordenadora do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza.

Por ter atuado como enfermeira ambulatorial do transplante cardíaco pediátrico, ela ressalta o reconhecimento e admiração por todos os enfermeiros que desenvolvem suas atividades nessa área, “por seu conhecimento técnico e sua desenvolvida habilidade interpessoal, possibilitando a fluidez de todo o processo”.  Kiarelle ainda aponta que o preparo desses profissionais de enfermagem começa já na formação acadêmica dentro da Universidade.

Além das ligas acadêmicas, como a Liga Acadêmica de Cuidados Cirúrgicos (LACC) ‒ que tem como foco todo o processo de transplante, incluindo ações na unidade de transplante e na comissão intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos, bolsistas de iniciação científica que atuam nessa área, produção de artigos científicos e do desenvolvimento de trabalhos de conclusão de curso nessa temática ‒, a graduação em Enfermagem também faz a inclusão dessa temática no conteúdo programático de disciplinas teórico-práticas, como a de Enfermagem em Cuidados Cirúrgicos.

“Os discentes do último semestre têm a possibilidade de atuarem especificamente nessa área, durante o internato hospitalar. Inclusive, temos muitos egressos que atuam nessa esfera e recentemente duas egressas, que durante a graduação se dedicaram a pesquisas nessa temática, são residentes em transplante de órgãos e tecidos”, completa Kiarelle.


Isabelle Barbosa Pontes, enfermeira do transplante cardíaco pediátrico e egressa da graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza. (Foto: Acervo Pessoal)

Para Isabelle Barbosa Pontes, enfermeira do transplante cardíaco pediátrico e egressa da graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza, o papel da Universidade foi fundamental para a escolha da sua área de atuação.

“Durante a rotina acadêmica, passei a ter mais contato com o tema [de transplantes de órgãos] devido às campanhas realizadas, aumentando o interesse em me aprofundar. A Universidade é um instrumento muito importante para criar profissionais conscientes e atualizados no assunto, para que possam dar suporte ao doador e seus familiares, além de orientar e estimular a sociedade quanto à doação de órgãos. O transplante é, para muitas pessoas, uma segunda chance e trabalhar para que esse processo aconteça exige conhecimento, dedicação e amor. É muito gratificante fazer parte da segunda chance não só de um paciente, mas de uma família inteira que está tentando se reerguer. Eu me sinto feliz em poder participar e ajudar para que isso aconteça”, celebra.