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Qui, 15 Abril 2021 15:22

Entrevista Nota 10: Anísio Meneses e os avanços da Hidrologia no Brasil

Pesquisador da área de recursos hídricos e professor do curso de Engenharia Civil da Unifor aborda a importância da água para o planeta 
 


Professor Anísio de Sousa é Mestre em Recursos Hídricos (Foto: Divulgação)
Professor Anísio de Sousa é Mestre em Recursos Hídricos (Foto: Divulgação)

Docente do curso de Engenharia Civil da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, e Mestre em Recursos Hídricos, Anísio de Sousa Meneses Filho, acredita que a boa gestão das águas faz toda a diferença no desenvolvimento humano e econômico. 
 
Autor do e-book “Hidrologia na Prática”, fruto de trinta anos de estudos e atuação na área, o pesquisador de sólida trajetória inspira seus alunos a se envolverem com o bem essencial da natureza e contribui para a busca de soluções sobre questões como a escassez hídrica que historicamente assola o semiárido brasileiro. A seguir, confira a entrevista completa: 
 
Entrevista Nota 10 - Professor, poderia nos contar um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional?
 
Anísio Meneses - Graduei-me engenheiro civil pela Universidade Federal do Piauí em 1986. Obtive o título de mestre em Recursos Hídricos pela Universidade Federal do Ceará em 1991. A partir daí desenvolvi trabalhos de consultoria e estudos hidrológicos em diversos estados nordestinos. Entre 1997 e 1999, cumpri os créditos acadêmicos no programa de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas tive que retornar antes da conclusão – nesse período, acompanhei, como aluno, os trabalhos de elaboração do plano de drenagem de Porto Alegre, a cargo daquela universidade. Sou professor da Unifor desde 2012, onde leciono as disciplinas Hidrologia e Portos, Rios e Canais no curso de graduação em Engenharia Civil, além da disciplina de Drenagem em pós-graduação. Antes, exerci o magistério nos níveis fundamental, médio e superior na área de física. De 2000 a 2005, atuei como docente no Departamento de Física da Universidade Estadual do Ceará. Todo esse percurso serviu para o meu amadurecimento acadêmico e profissional, num processo continuado com muita coisa ainda a fazer. Na Universidade de Fortaleza, tenho tido a oportunidade de ampliar e desenvolver novos estudos, ensinando e aprendendo, conforme o lema tão marcante. A ambiência acadêmica aqui é bastante inspiradora, a instituição sempre se alinha às melhores práticas pedagógicas e tem avançado muito na investigação científica nos últimos tempos. Nos anos recentes, estou trabalhando com um grupo renovado de alunos na pesquisa das melhores estratégias de drenagem e manejo das águas pluviais em áreas urbanas, explorando práticas para a construção de cidades mais resilientes aos eventos críticos. O problema das cheias, que tem pautado nossa atuação acadêmica, atinge praticamente todo as cidades do mundo e se acentua no cenário de incerteza e de mudanças climáticas. Muito há para ser pesquisado, envolvendo tanto medidas estruturais (por exemplo, as obras e intervenções físicas compensatórias) quanto medidas não estruturais (como a educação ambiental). Estamos trabalhando firmes, e com entusiasmo, nesse propósito.

Entrevista Nota 10 - No início deste ano, o senhor lançou o livro "Hidrologia na Prática", lançado virtualmente e de forma gratuita. De onde partiu a ideia de produzí-lo?

Anísio Meneses - O nosso livro Hidrologia na Prática, lançado por ocasião da Semana da Água na Unifor, agora em março, é fruto de um esforço de trinta anos de estudos e atuação na área de recursos hídricos. Tanto na docência quanto no trabalho de consultoria, eu sempre observei uma vasta literatura brasileira e estrangeira, porém ainda uma carência nos aspectos de aplicação básica para motivar os estudantes e profissionais em início de carreira no aprofundamento das técnicas e dos métodos, assim como na modelagem hidrológica. Trata-se de uma compilação do conteúdo essencial da disciplina Hidrologia que desenvolvemos aqui na Unifor com uma linguagem simples e direta para favorecer a compreensão e impulsionar novas leituras. A contribuição é modesta, mas pode ser bem aproveitada.

Entrevista Nota 10 - Como se deu o processo de pesquisa para "Hidrologia na Prática"?

Anísio Meneses - Com o início da pandemia, senti-me desafiado a tornar as nossas aulas de Hidrologia na Unifor ainda mais estimulantes para o aluno que, neste período de restrições sociais, já não pode contar com a presença mais próxima do professor e que naturalmente resiste às aulas remotas ou ao ambiente virtual. Essa fase de transição de um formato a outro de aula nos instiga a repensar o papel do professor e a buscar novas estratégias para a eficiência do processo de aprendizagem. Pesquisei, então, diversas ferramentas pedagógicas de orientação mais ativa, desenvolvi algumas videoaulas, mas o formato do livro acabou me parecendo o mais adequado para compor essa dinâmica. Percebo que, apesar de tradicional, o livro preserva um bom apelo na sistematização do conhecimento. A ideia é dar prosseguimento vinculando o conteúdo do livro com as videoaulas na plataforma de ensino da Universidade, com o uso de QR code para remissão. O fato de ser digital (e-book) confere a ele uma melhor portabilidade, podendo ser acessado em qualquer lugar, através de um tablet ou smartphone. Além disso, os custos de produção industrial são muito menores do que no formato impresso.
 
O livro está estruturado em duas partes. Na primeira, apresentamos 50 aplicações varrendo desde a etapa mais básica de delimitação territorial da bacia hidrográfica até a utilização de modelos avançados para a simulação hidrológica. Na segunda parte, reunimos exercícios de provocação, na forma de quizzes comentados (num total de 265 itens), que ajudam o leitor na fixação do conteúdo e no aprimoramento reflexivos dos aspectos conceituais.

Entrevista Nota 10 - Por que falar de hidrologia na Engenharia Civil? Como o curso da Unifor aborda o tema?

Anísio Meneses - A Universidade de Fortaleza implementa, de forma continuada, um esforço vigoroso em prol da excelência acadêmica. Particularmente, o curso de Engenharia Civil exibe um espectro muito largo de atuação, o que, por um lado, abre múltiplas oportunidades para os profissionais, mas, por outro, impõe a necessidade de preparar o nosso aluno para grandes e complexos desafios para o ingresso efetivo e promissor no mercado de trabalho. A área de recursos hídricos é um desses diversos compartimentos, com especial destaque pelo fato de envolver o bem mais essencial da natureza – a água. Embora a formação acadêmica compreenda uma abordagem sistêmica e global, procuramos, tanto quanto possível, dar ênfase às questões do nosso semiárido historicamente assolado com a escassez hídrica.
 
Atualmente, uma das áreas de atuação mais alvissareiras para o engenheiro civil é a do saneamento básico, tendo em vista, inclusive o novo marco legal sancionado em meados de 2020, prevendo fortes investimentos da infraestrutura. A expertise na gestão das águas se conecta bem no contexto dessa demanda no abastecimento, na destinação de efluentes e no manejo das águas pluviais. Nosso aluno está atento a isso.

Entrevista Nota 10 - No Brasil, em especial no Ceará, existem muitas obras civis atreladas à hidrologia? Pode nos dar algum exemplo?
 
Anísio Meneses - No semiárido nordestino, a boa gestão das águas assume uma relevância superlativa. O manejo desse bem econômico e essencial à vida se impõe mais delicado num cenário de severa escassez e de poluição de muitos dos nossos mananciais hídricos. O estado do Ceará adquiriu até aqui uma vasta experiência no convívio adaptativo com as secas, notadamente pelo programa de açudagem implantado a partir do final do século XIX e mais fortemente ao longo do século XX. Experiência também no que se refere à integração de bacias, com a implantação de canais e adutoras para prover a água no tempo certo e na quantidade e qualidade requeridas para as atividades econômicas.

Uma obra de grande envergadura e de impacto muito animador é o Cinturão das Águas, ainda em fase de conclusão. Com a chegada das águas do rio São Francisco, entrando pela bacia do Salgado, logo teremos condições de atender a todo o estado do Ceará, proporcionando a tão almejada segurança hídrica através da integração e transferência. 

Muito há para ser feito nos anos vindouros. É nessa perspectiva que o nosso trabalho na docência e na pesquisa busca contribuir, formando profissionais com interesse de avançar nos estudos mais aprimorados e, assim, no enfrentamento eficaz e consequente desses enormes desafios concernentes à elevação do nosso IDH e ao crescimento sustentável na nossa região e no Planeta. Sem água não há desenvolvimento humano. Sem água a economia não se estabelece.

Para acessar o e-book “Hidrologia na Prática”, solicite AQUI