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Ter, 21 Maio 2019 17:49

Entrevista Nota 10: Monitor com muito amor!

A professora Michelle Galvão e a aluna e monitora Manuela Hortênsio são as entrevistadas do nosso especial.
A professora Michelle Galvão e a aluna e monitora Manuela Hortênsio são as entrevistadas do nosso especial.

Aprender ensinando é o lema da Unifor e também o que move, organicamente, o Programa de Monitoria da Universidade, célula ligada à Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e coordenada com entusiasmo e total proatividade pela professora Michelle Galvão.

Ela, que também é professora dos cursos de Eventos e Ciência da Computação, se felicita com os números: hoje, na ponta do lápis, nada menos do que 890 monitores, entre institucionais e voluntários, estão espalhados pelo Campus, atuando junto aos professores nas mais diversas áreas de conhecimento.

Manuela Hortênsio, aluna do 5º semestre do curso de Direito da Unifor, é um modelo referencial de monitora. Por isso, foi convidada junto com a professora para contar sobre a dinâmica interna de uma experiência que considera apaixonante e fundamental para imprimir ainda mais qualidade à sua formação.

Mas não só: para Manu, além de ser uma aluna melhor depois de se tornar monitora, vê suas competências profissionais aflorando e se aperfeiçoando na medida em que as primeiras oportunidades de trabalho aparecem. Por isso, a monitoria é tão valiosa e disputada na Unifor.

Entrevista

Sabemos que a monitoria é um requisito legal para as instituições de ensino superior. As universidades oferecem um programa de monitoria acadêmica, que faz parte das atribuições para a formação da docência no ensino superior. Mas como a monitoria se dá hoje na Unifor e o que ela agrega além do já esperado?

Michelle Galvão - Quando eu tenho um aluno que se interessa pela docência no ensino superior como um percurso possível de carreira, a universidade precisa apresentar isso como uma possibilidade de atuação e introduzi-lo nessa vivência. Então a monitoria acadêmica é essa possibilidade de apresentar a docência como exercício de carreira. Mas ao mesmo tempo em que há um requisito legal, a gente entende também que é uma oportunidade de integração do aluno. Quando o aluno se torna monitor, ele desenvolve um outro olhar sobre o próprio curso, porque ele começa a entender o que que é uma matriz curricular, o que que é um projeto de ensino, como é que o curso se organiza e como é que ele se relaciona e, uma vez entendendo isso, como é que ele pode ajudar os outros alunos a tirarem maior proveito da experiência na graduação.

Tem efeito multiplicador, portanto. Daí sua importância…

Michelle - A monitoria é especialmente importante. Ela é importante em todos os semestres, mas principalmente nos semestres iniciais em que eu tenho um aluno que já cumpriu uma trajetória dentro da graduação e ele decide ser monitor de uma disciplina de primeiro, segundo e terceiro semestres. Ele tem a chance de mostrar para esses alunos as oportunidades de pesquisa que moram dentro da universidade e que às vezes não estão muito claras. O professor deve falar sobre isso em sala de aula, mas às vezes essa informação cola melhor quando é um colega de curso que apresenta, com esse olhar de também aluno da graduação.

A seleção é anual, quando se lança um edital listando as disciplinas que vão estar contempladas no programa de monitoria do ano seguinte. Há provas de seleção, mas que outros requisitos pesam hoje nessa seleção?

Michelle - É também analisada a Performance Média Global, que é o compilado de todas as disciplinas até aquele momento, o currículo e também é feita uma entrevista. A entrevista tem peso 2, porque docência é comunicação. Às vezes esses indicadores mais objetivos não dão conta da minha habilidade relacional. E às vezes eu tenho um aluno nota 8, mas ele se comunica muito melhor, ele empodera os colegas, ele se felicita com o crescimento do amigo, ou seja, não tem uma visão individualista de crescimento acadêmico. Isso é importante para poder fazer com que o resultado da monitoria também seja um resultado coletivo, na medida em que o monitor é como uma ponte: ele ajuda os outros alunos a fazerem um caminho com mais suporte.

E quais os resultados qualitativos que merecem ser destacados até agora, levando em conta a adesão de quase 900 alunos envolvidos no programa de monitoria em todos os Centros da Unifor?

Michelle - Se a gente pensar assim que eu tenho mil alunos monitores em cada Centro, ou algo em torno disso, e eles têm uma relação direta com outros 20 alunos, cubro toda a comunidade acadêmica. Então a gente cria aí uma grande corrente para que as oportunidades sejam melhor aproveitadas e para que os alunos participem do programa de formação de monitores. O aluno que entende o valor da monitoria é o aluno que é premiado em congresso, é o aluno que viaja com ajuda de custo da instituição, é o aluno que consegue sair da graduação e passar direto para a seleção do mestrado. Então a gente quer dar visibilidade para esses alunos que já entenderam a riqueza que é o programa e o quanto ele pode potencializar e transformar a carreira. A gente acredita muito nisso, por conta dos exemplos que já se tem: uma parte considerável dos nossos professores foram monitores acadêmicos.

A monitoria é só para quem quer seguir a carreira docente?

Michelle - Não. A monitoria é uma oportunidade de viver melhor a graduação. Independente de o aluno ter afinidade com a docência, há quem escolha a monitoria porque ele precisa se desinibir e tem alguma trava para falar em público. Ele sabe que a monitoria é um campo em que ele vai exercitar isso o tempo todo. Um aluno que precisa desenvolver habilidades de liderança. Então, é um campo de desenvolvimento de competências permanente. Acho que a monitoria é esse exercício de desenvolvimento pessoal, em que você vai poder levar essa habilidade para qualquer área: relacionamento, planejamento, comunicação, a habilidade de lidar com pessoas muito diferentes.

E na sala de aula, como o aluno é orientado a atuar?

Michelle - Tem dois modelos. Primeiro o monitor vai para a sala de aula com o professor e auxilia o professor no desenvolvimento de alguma metodologia. Então o aluno está ali junto com o professor, no horário normal de uma aula. E o aluno tira dúvidas ou ajuda a facilitar atividades em equipe ou o aluno desenvolve a temática daquela aula com o professor presente. E o monitor tem um espaço em que ele é protagonista: nos Grupos de Estudos Dirigidos, que são os GED´s. Então o aluno está dentro da sala de aula com o professor, o aluno conduz grupos de estudo dirigido e ele também está em plantão para tirar dúvidas. E cada Centro vai desenvolvendo os seus modelos de atuação. Às vezes o aluno monitor resolve com o professor que naquele semestre vai desenvolver vídeos e criar um canal no Youtube para a disciplina. Ou usar Whatsapp para tirar dúvidas, fazer quizz, enfim há diversas outras metodologias possíveis intermediadas pelas tecnologias e que são inclusive propostas e trazidas pelos alunos.  

Então, queria ouvir uma monitora exemplar, Manuela Hortênsio, graduanda do curso de Direito da Unifor. Como você chega à monitoria, Manu? E o que essa experiência proporciona de mais valioso?

Manuela - Sou apaixonadíssima pela Unifor. Sou aluna com FIES e quando consegui vir para cá, em 2017.1, coloquei na minha cabeça que tinha que aproveitar tudo o que essa universidade me oferece: queria ser monitora, participar de grupos de pesquisa, já participei do projeto Cidadania Ativa, sou voluntária da Feira das Profissões pelo segundo ano e monitora também pelo segundo ano consecutivo.

No curso de Direito me apaixonei pela disciplina Direito Constitucional I, ministrada pelo professor Marcos Vinícius. Me encantou o jeito dele de dar aula, a forma como repassava aquela matéria e, pelo meu entusiasmo, acabei conseguindo ser aluna bolsista da cadeira no ano passado. Para mim, o monitor, ele é um espelho, um exemplo. Ele é a ligação do professor com os alunos. O perfil dos monitores é esse de uma pessoa que sabe estar no lugar de quem está nos semestres anteriores. Eu já estive no seu lugar e posso dizer como você pode aproveitar essa universidade de uma maneira maravilhosa.

E como a monitoria ajudou a você mesma como estudante?

Manuela - A monitoria abriu todas as portas para mim, principalmente quanto ao contato com professores incríveis que ajudam na minha formação. Eu penso desde criança em ser professora e já sei que quero ser professora da graduação no Direito. A monitoria me ajudou a descobrir que realmente era isso que eu queria. Fora os contatos com os alunos: eles aprendem e eu aprendo demais com eles. A troca de experiências é incrível. E aprender a estudar é muito importante. De que forma eu rendo melhor em sala de aula? Como é que eu posso estudar para essa matéria de Constitucional sendo um aluno de 50 anos que trabalha? Então a gente cria uma forma de facilitar esse estudo, seja através de vídeo-aula, podcast, quiz, grupo do Whatsapp, tudo isso. É a eficiência do estudo. É eu conseguir aprender realmente, não só decorar. Por exemplo: algumas pessoas aprendem melhor com a leitura, outros quando assistem às aulas. Eu gosto de fazer mapas mentais... E quem me influenciou nisso foi justamente o professor orientador da monitoria, Marcos Vinícius Parente Rebouças. Você estuda captando palavras-chaves daquele conteúdo e fazendo associações, utilizando cores, formas, que é para conseguir interligar as matérias entre si. É muito bom.

Então você também é uma aluna melhor porque é monitora...  

Manuela - Com certeza.

Michelle - Manu, você disse que veio pelo FIES, então de que maneira o FIES, como uma política pública para viabilizar o acesso ao ensino superior, foi decisivo para o seu processo de vir para a Unifor?

Manuela - Decisivo. Sem o FIES eu não poderia estar aqui, não estaria nessa conversa com vocês, não teria aproveitado tudo que eu já aproveitei e não iria aproveitar tudo que eu ainda quero aproveitar. Sou de uma família de classe média, tenho mais três irmãos e meus pais não poderiam pagar a Unifor. Estudei em escola particular, mas com bolsa parcial e com os anos a renda familiar diminuiu.

E se debate sobre isso na monitoria, em sala de aula, sobretudo nesse momento de tantos cortes na política pública nacional de educação?

Manuela - Com certeza. Existem vários alunos do FIES também e nós discutimos bastante sobre isso, sobre as oportunidades. Conversamos sobre outras políticas públicas também, como o SUS. Tudo isso faz parte do Direito e é debatido em sala de aula com os alunos, chamando atenção para a importância da inclusão, principalmente tendo um exemplo como eu, que sou uma aluna monitora que veio do FIES e hoje já está estagiando no Tribunal de Justiça.

Então há ainda um amadurecimento político muito grande vivenciado no processo de monitoria.

Michelle – Sim. E se a gente está falando de um futuro professor universitário, ele precisa ser atravessado por esses incômodos também. E sermos sujeitos dessas transformações.

Tudo isso faz parte de um processo de formação de monitores?

Manuela – Isso tudo vem junto com a formação, porque durante a monitoria são ofertados minicursos, palestras super especiais, escolhidas a dedo para os monitores. São oportunidade que os monitores têm de debater sobre o ensino, as metodologias ativas e, claro, a vida social mesmo. Sempre em busca daquele objetivo fim, que é exercer a monitoria com excelência. Ou seja, como é que eu planejo uma aula pra ter o melhor resultado junto ao aluno, como aquele conteúdo pode ser apreendido em equipe, o que é comunicação interpessoal, as competências. Mas de forma que tudo isso seja lúdico, leve.

Michelle – A Unifor contrata profissionais que ficam à disposição do Programa de Monitoria para realizar essas palestras. Então é um investimento institucional muito grande, mas com flagrantes e valiosos resultados. Por exemplo, o programa exige o cumprimento de 20 horas e existem monitores que têm 60 horas, 80 horas de dedicação. Ou seja, ele foi sujeito do aprendizado também E lembro: grande parte da monitoria acadêmica ainda é feita por monitores voluntários, para além dos bolsistas. E esses monitores voluntários dão show de resultado, com muitos artigos premiados.