null Pesquisadores da Unifor desenvolvem estudo sobre os impactos causados pela Covid-19 na saúde mental de brasileiros

Sex, 31 Julho 2020 11:19

Pesquisadores da Unifor desenvolvem estudo sobre os impactos causados pela Covid-19 na saúde mental de brasileiros

Estudo comprova que a pandemia repercutiu no surgimento e agravamento de depressão, ansiedade e estresse.


O estudo também identificou que pessoas em maior nível de adesão às medidas de contenção da pandemia apresentam maiores taxas de adoecimento. (Foto: Getty Images)
O estudo também identificou que pessoas em maior nível de adesão às medidas de contenção da pandemia apresentam maiores taxas de adoecimento. (Foto: Getty Images)

Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro? Tendo essa pergunta como pano de fundo, pesquisadores da Universidade de Fortaleza, financiados pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI), foram em busca de soluções de curto e médio prazo no combate à Covid-19, que só no Ceará já deixou mais de 7 mil mortes e no Brasil mais de 90 mil óbitos.

Os resultados mostram que os piores índices de saúde mental ocorrem entre pessoas que já tiveram a doença, que pertencem aos grupos de risco, moram com pessoas do grupo de risco ou concordam com o isolamento social.

O estudo também identificou que pessoas em maior nível de adesão às medidas de contenção da pandemia apresentam maiores taxas de adoecimento.

A pesquisa mostra ainda que a adesão às medidas de prevenção está relacionada à concordância com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e à discordância da postura do atual governo federal frente à pandemia.

Segundo a pesquisa, a adesão ao isolamento social está relacionada ao altruísmo e à empatia, afinal, ao se preocupar com o próximo, a tendência é que o brasileiro adote atitudes para evitar o contágio e a transmissão do vírus.

Saiba mais sobre o projeto de pesquisa

O projeto, intitulado “A Covid-19 e o isolamento social: os impactos sobre a saúde mental, o uso do tempo e a relação pessoa-ambiente no domicílio”, faz parte de 10 projetos escolhidos para financiamento científico da Fundação Edson Queiroz.

O objetivo do projeto é identificar os impactos da Covid-19 e das medidas de isolamento e distanciamento social sobre a saúde mental, o uso do tempo livre e as relações pessoa-ambiente no domicílio do contexto da pandemia, a partir de pesquisa nacional.

A professora Cynthia Melo, coordenadora do projeto, informa que foi feito um levantamento com 2.705 brasileiros, realizado por outros seis professores doutores e alunos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, e de outras instituições.

Este estudo sinaliza indicadores de depressão, ansiedade e estresse. Mostra que a sensação de vulnerabilidade e risco de morte são adoecedores e que o distanciamento social, apesar de necessário para a contenção da doença, traz consequências para a saúde mental do brasileiro. Por isso, a Covid-19, além de ser um grave problema de saúde física, é também um problema de saúde mental. É necessário adotar medidas de cuidado e prevenção em saúde mental que nos possibilitem um distanciamento social com qualidade de vida”, explica a professora Cynthia Melo.

Os resultados apontaram questões psicossociais envolvidas nas experiências de distanciamento social, que refletem nas percepções sobre autonomia ou falta desta na apreensão das novas temporalidades sociais e subjetivas, reorganização no tempo de trabalho e do lazer, possibilidades e impossibilidades de ócio, e tédio como percepção de ausência de sentido.

“O isolamento social, junto ao estado de pandemia, conduziu o brasileiro a novas configurações sobre tempo, espaço, tempo de trabalho e ócio, interferindo em seu bem-estar e qualidade de vida, convocando elementos estressores decorrentes de ajustamentos psicossociais de ordem diversas”, salienta o professor Clerton Martins, do PPGP.

A pesquisa também identificou a relação pessoa-ambiente e os fatores relacionados ao estresse em domicílio durante o período de confinamento. Os dados mostram que o ambiente domiciliar passou a ser um ambiente multifuncional, agregando funções de ambiente residencial, de trabalho, de estudo e de lazer. O estudo também mostrou que a convivência familiar excessiva pode levar a conflitos familiares e sofrimento psíquico.

“A partir dos resultados deste estudo, é possível entender melhor como o estresse ambiental está impactando os brasileiros nesse contexto de distanciamento social. A rotina residencial foi alterada, provocando estresse. Mas há como utilizar novos arranjos espaciais no ambiente de casa para promover uma maior sensação de conforto ambiental e restauração ao estresse. A partir desses dados, a população pode refletir sobre as possibilidades de mudanças na rotina, organização e relações na moradia que podem gerar bem-estar”, afirma a professora Karla Patrícia, do PPGP.

Edital contribui para o fomento à pesquisa científica

“As pesquisas financiadas tinham que ter impacto rápido na sociedade. Foi o caso deste trabalho que pode subsidiar governos e empresas a definirem políticas de mitigação dos efeitos psicológicos da pandemia”, frisa o professor Vasco Furtado, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Fundação Edson Queiroz.

Segundo ele, o incentivo dado à pesquisa coordenada pela professora Cynthia Melo "é um exemplo de como a Fundação Edson Queiroz e a Universidade de Fortaleza consideram importante o fomento à pesquisa científica”.

Ao todo, a instituição investiu cerca de R$ 400 mil em dez projetos elaborados por sua equipe de pesquisadores nas áreas de saúde mental, aspectos virológicos, violência de gênero no isolamento social, ações de prevenção em saúde coletiva, entre outras.

As equipes de pesquisadores trabalharão até o fim de 2020 para entregar os resultados da produção científica proposta. A iniciativa é mais uma ação da Fundação Edson Queiroz no enfrentamento da pandemia no estado e no país como um todo, a exemplo do apoio às autoridades sanitárias na análise de amostras dos exames de Covid-19 e o desenvolvimento do capacete de respiração assistida para pacientes de média complexidade (Elmo).

Os trabalhos foram selecionados por um comitê de especialistas externos à Universidade de Fortaleza, tendo como premissa a escolha de pesquisas que tragam resultados em curto e médio prazos. “Essa é uma iniciativa inédita: uma universidade privada, com recursos próprios, lançando edital de pesquisa em combate ao coronavírus. Investir na sociedade é uma preocupação nossa”, destaca o professor Vasco Furtado.