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Qui, 13 Agosto 2020 11:49

Entrevista Nota 10: Angelo Roncalli e o poder do conhecimento farmacêutico

O professor do curso de Farmácia da Universidade de Fortaleza ressalta a importância de tornar a ciência cada vez mais acessível


Doutor em Ciências Farmacêuticas, Ângelo Roncalli é professor e pesquisador da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)
Doutor em Ciências Farmacêuticas, Ângelo Roncalli é professor e pesquisador da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)

Compreender o potencial de cura obtido das plantas foi a força-motriz que impulsionou Angelo Roncalli, professor da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, a se apaixonar pela carreira de farmacêutico ainda jovem. 

Doutor em Ciências Farmacêuticas pela USP, atualmente ele coordena a Divisão de Pesquisa da DPDI e leciona no curso de Farmácia da Unifor. Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, Roncalli fala sobre as possibilidades da profissão em Farmácia, defende a democratização dos saberes científicos e esclarece como projetos de tecnologia e saúde são efetivos no combate ao novo coronavírus (Covid-19).

Confira a seguir: 

Entrevista Nota 10: Como se deu sua trajetória com a Farmácia? 

Angelo Roncalli: Desde jovem, tive a curiosidade de entender como produtos obtidos de plantas curavam. Descobri que, o curso que proporcionaria conhecer o desenvolvimento de produtos para tratamento de doenças seria o de Farmácia. Entretanto, ao ingressar no curso, percebi que a maioria dos meus colegas queriam atuar em análises clínicas, mas, desde cedo, pensei em ajudar a sociedade por meio do desenvolvendo de medicamentos. 

Entrevista Nota 10: De que forma encontrou o interesse pela docência? 

Angelo Roncalli: Quando criança, acompanhei minha mãe, professora, atuando em sua profissão e achava bem interessante a forma que os alunos prestavam atenção a sua aula. Durante o curso de Farmácia, quando estudava com meus colegas, eles me pediam para ajudá-los com o conteúdo dando aula e alguns falavam que eu seria professor. Diante desses exemplos, acredito que segui um caminho natural. 

Entrevista Nota 10: Professor, a Farmácia é um campo que permite diversas possibilidades de atuação, com 136 áreas, hoje em dia. De que forma os estudantes da Unifor têm se preparado na construção de um perfil diferenciado para essa realidade? 

Angelo Roncalli: O curso de Farmácia da Unifor tem um quadro de professores bem diversificado quanto ao conhecimento nas áreas de atuação do farmacêutico. O acesso dos alunos a essa realidade faz com que eles vivenciem, de forma mais real, a sua futura profissão. Muitas vezes, observamos em outros cursos de farmácia um quadro de professores com deficiência em alguma área de conhecimento específica, isso é prejudicial ao aluno, pois força a direcionar a sua formação para determinada área, única e exclusivamente, por não ter tido acesso a outras possibilidades de atuação do farmacêutico. 

Entrevista Nota 10: O curso tem parcerias com empresas que aproximam do mercado de trabalho? 

Angelo Roncalli: Gostaria de abrir um parêntese e falar sobre a minha atuação junto a Diretoria de Pesquisa Desenvolvimento e Inovação (DPDI), sob a direção do Professor Vasco Furtado. A Fundação Edson Queiroz, por meio da Universidade de Fortaleza, com o apoio do diretor, vem criando iniciativas inovadoras quanto a aproximação de empresas a pesquisadores e alunos. Por ser professor do curso de Farmácia e fazer parte dessa diretoria, demos os primeiros passos na aproximação a empresas do setor farmacêutico, cosmético e de alimentos. Essa iniciativa, já nos permitiu inserir alunos do curso de Farmácia, como estagiários, nas empresas parceiras, além de fazer com que atuem diretamente no desenvolvimento de produtos. 

Entrevista Nota 10: Tornar a Ciência mais acessível para a população é uma forma de democratizar o conhecimento e ir além dos muros das universidades?   

Angelo Roncalli: Não tenho dúvidas! Acredito que esteja dentro da missão das universidades “tornar a ciência mais acessível”. Se olharmos para os grandes exemplos de países desenvolvidos, vemos claramente o quanto o conhecimento e a ciência é difundida à população. Como consequência, identificamos nesses países um grande desenvolvimento social e econômico contribuindo com o aumento sustentado da produtividade, da renda, da ciência e tecnologia. 

Entrevista Nota 10: Diante da pandemia da Covid-19, o que pode a Tecnologia aliada à Farmácia para combater esse difícil momento?  

Angelo Roncalli: Temos exemplos atuais da importância da tecnologia aliada à Farmácia na Universidade de Fortaleza. A produção do álcool em gel além de outros produtos que servem na higienização das mãos são ações cotidianas no curso de Farmácia, muitos de nossos professores estão atuando na realização de testes para COVID-19 e auxiliando na gestão e utilização de medicamentos de pacientes internados em laboratórios e hospitais; pesquisas de possíveis fármacos para o tratamento da COVID-19 e desenvolvimento de um novo teste para detecção do vírus estão em fases iniciais. Considero esses exemplos, provas irrefutáveis da contribuição da Tecnologia aliada à Farmácia.

Entrevista Nota 10: Que projetos a DPDI e o NUBEX têm desenvolvido de forma geral e também destinados ao enfrentamento da Covid-19? 

Angelo Roncalli: A Fundação Edson Queiroz, por meio da DPDI, com ajuda de pesquisadores do NUBEX e do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas, adaptou a estrutura do Laboratório de Bioagentes Patogênicos do NUBEX, com o objetivo de ajudar o Governo do Estado do Ceará na realização dos testes para COVID-19, atingindo um total de 3.000 testes/mês. Outro esforço é a construção do laboratório NB3. Para realização de estudos na área do COVID-19 de forma segura é necessário um laboratório (NB3), que garanta as condições de biossegurança aos envolvidos com a pesquisa. No Brasil, existem poucos laboratórios NB3 certificados e, na minha opinião, a Universidade de Fortaleza, com essa iniciativa, ocupará uma posição de destaque com pesquisas na área. 

Além desses projetos DPDI/NUBEX, a Fundação Edson Queiroz, esse ano, por meio da DPDI, lançou uma chamada interna com o objetivo de financiar projetos de pesquisadores que contribuíssem significativamente no enfrentamento da COVID-19 e suas consequências. No momento, temos nove projetos em andamento. 

Entrevista Nota 10: Para finalizar, como a internacionalização da Universidade traz impactos positivos para a área farmacêutica?

Angelo Roncalli: Nos últimos anos, o desenvolvimento de produtos farmacêuticos tornou-se mais complexo. Devido a essa complexidade, na qual tínhamos apenas o profissional farmacêutico, passou a ter pesquisadores de outras áreas. Por exemplo, para o desenvolvimento de um biofármaco, além do farmacêutico, é fundamental a participação de um pesquisador na área de biotecnologia. Outro aspecto importante é, que apesar do grande destaque na pesquisa alcançada pelo país, as grandes empresas de desenvolvimento de produtos farmacêuticos se concentram nos Estados Unidos, Europa, Japão e China. Esses dois aspectos reforçam a importância das parcerias internacionais para a área farmacêutica e, graças ao apoio da Fundação Edson Queiroz ao programa Global Research Fellowship, lançado pela Unifor em 2018, temos atualmente o professor Amir Sheiki da Universidade da Pensilvânia colaborando conosco na área