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Qui, 27 Agosto 2020 16:31

Você já pensou sobre a doação de órgãos? Entenda como esse ato solidário pode salvar vidas

Coordenadora da campanha Doe de Coração 2020, a médica Polianna Lemos ressalta a importância de comunicar o desejo de ser doador à família


Professora Polianna Lemos, do curso de Medicina da Unifor, coordena a campanha Doe de Coração 2020 (Foto: Ares Soares)
Professora Polianna Lemos, do curso de Medicina da Unifor, coordena a campanha Doe de Coração 2020 (Foto: Ares Soares)

A pandemia do novo coronavírus tem causado diversas alterações na área da saúde. No Brasil, por exemplo, o número de doadores de órgãos caiu 6,5% no primeiro semestre de 2020 em relação ao ano anterior, segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Transplantes (ABTO)

Um dos principais motivos para a queda está ligado ao fato de que as vítimas da Covid-19 não podem ter seus órgãos oferecidos a um novo receptor por conta do risco de contaminação da doença. Além disso, com o avanço do número de infectados, os leitos destinados ao isolamento dos pacientes também sofreu significativa diminuição. 

A médica nefrologista e professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, Polianna Lemos, destaca que “o menor número de potenciais doadores causado pela diminuição de causas externas de óbito devido ao isolamento social, a queda das notificações de potenciais doadores pelo fato dos serviços estarem voltados para resolução da pandemia, dificuldade de acesso às famílias de possíveis doadores por medo de se deslocarem aos hospitais e o prejuízo da logística de transporte de órgãos pela suspensão de voos”, também são fatores que influenciam para esse cenário. 

Referência mundial em doação de órgãos e tecidos, o Brasil conta com o maior sistema público de transplantes do mundo e em números absolutos é também o segundo que mais transplanta no mundo, ficando atrás apenas dos EUA. Apesar disso, no atual momento, enfrenta o desafio de estimular esse ato de solidariedade como uma estratégia de superar os danos da pandemia. 

À frente da coordenação da tradicional campanha Doe de Coração deste ano, realizada anualmente pela Fundação Edson Queiroz  com o objetivo de informar e encorajar a população sobre o assunto, ampliando a rede de doadores de órgãos, Polianna explica como o Ceará tem conduzido seu número de espera por transplantes. Segundo o registro brasileiro de transplantes e Secretaria de Saúde do Estado 27% das pessoas que testaram positivo para o novo coronavírus eram potenciais doadores. 

“O Ceará sempre teve um papel de relevância na doação de órgãos no país. O estado foi o primeiro a estabelecer a testagem para Covid-19 (RT-PCR) em potenciais doadores, medida adotada posteriormente estabelecida pelo Ministério da Saúde”, afirma. 

Como ser um doador 

Ainda tabu para muitas pessoas, por conta da desinformação, a doação de órgãos é uma atitude de nobreza que tem impacto direto na qualidade de vida de muitos pacientes que estão na fila de espera por um transplante. 

De acordo com Polianna, o passo fundamental para se tornar um doador de órgãos é informar a família sobre esse desejo, pois só ela pode realizar a autorização.“O mais importante é conversar sobre o assunto com a família, manifestando seu desejo de doar. A família tende a respeitar o desejo do doador, sendo este o maior obstáculo que limita a doação”, ressalta. 

Existem dois tipos de doador: o doador vivo e o falecido. O primeiro pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. Ele pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Não parentes, só com autorização judicial. 

Já os doadores falecidos são pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). 

Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), segundo informações do Ministério da Saúde

Doe de Coração: um movimento pela vida 

Durante todo o mês de setembro, o movimento Doe de Coração realiza ações que buscam conscientizar sobre a importância da doação de órgãos e tecidos, um ato capaz de salvar vidas. Para a 18ª edição, a coordenadora da campanha revela que a programação trará diversas atividades.  

“Ações estratégicas acontecerão em diversos pontos de Fortaleza, atividades virtuais variadas como lives, vídeos, self points, seguindo todas as recomendações de segurança. O movimento distribuirá 5 mil blusas e máscaras entre alunos, professores e colaboradores firmando este compromisso em ampliar a doação de órgãos. Dia 27 de setembro será celebrado o Dia Nacional de Doação de Órgãos que contará com o apoio do Movimento”, enfatiza Polianna Lemos. 

Ainda segundo a coordenadora, as expectativas são positivas, mesmo diante dos desafios da pandemia. “Não só precisamos conscientizar as famílias, mas também os próprios receptores de órgãos, que estão temerosos de receberem um órgão contaminado pelo vírus”, finaliza.