null Professores da Unifor compartilham suas leituras favoritas durante a pandemia

Qui, 24 Setembro 2020 17:39

Professores da Unifor compartilham suas leituras favoritas durante a pandemia

Docentes reforçam como o período de isolamento pode ser uma oportunidade para resgatar a aproximação com a literatura


Pedro Boaventura, professor dos cursos de Arquitetura e Cinema da Unifor (Foto: Ares Soares)
Pedro Boaventura, professor dos cursos de Arquitetura e Cinema da Unifor (Foto: Ares Soares)

Durante o período de isolamento social ocasionado pela Covid-19, novos hábitos foram cultivados na tentativa de redescobrir o cotidiano e explorar formas para aproveitar o tempo presente.

Saiba como o contato com a literatura influenciou positivamente o dia a dia dos professores da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, e quais obras literárias são as favoritas do momento. 

Elizabeth Coelho, professora curso de Direito

"A leitura faz parte da minha vida e ler é minha paixão". Assim enfatiza Elizabeth Coelho, professora da graduação e pós-graduação em Direito da Universidade de Fortaleza. 

Durante o período de isolamento social, a professora destaca que manter hábitos importantes como a leitura é uma forma de cuidar da saúde mental. “Neste momento, reconheço o poder que o livro tem pois abre portas à reflexão. É um suporte de autoconhecimento. Não tenho dúvidas de que ler é o que eu mais tenho feito para viver melhor o isolamento”, comenta.

Entre as suas principais leituras, Elizabeth destaca ‘D.Quixote de La Mancha’, do autor Miguel de Cervantes. “Fiz a releitura deste clássico do século XVII, me considero uma pessoa muito romântica. Também procurei por livros que mexessem com a minha superação,  permitindo uma reflexão maior sobre as nossas atitudes. Confesso que gostei do livro ‘Seja Foda’, do autor Caio Carneiro, uma pessoa que tive o prazer de conhecer em São Paulo e cujo livro traz uma verdadeira injeção de ânimo e confiança. Ademais, fazendo o doutoramento em Ciência Política em Portugal, não pude me afastar de livros voltados para a minha pesquisa”, completa ela.

Marcio Acselrad, professor do curso de Psicologia

Docente do curso de Psicologia, Marcio Acselrad tem se dedicado à literatura. “Entre muitas desvantagens da situação atual, algumas vantagens é a gente poder ter mais tempo para se organizar e colocar as leituras em dia. Recentemente eu reli e recomendo muito o livro chamado ‘Fundação’, de Isaac Asimov. Asimov é um grande escritor de ficção científica e descreve uma sociedade futurista, um futuro muito distante mas na verdade não tão diferente do nosso, com todas as intrigas e problemas que os seres humanos enfrentam”, comenta ele.

O professor também têm se dedicado à leitura da obra ‘O senhor das moscas’, do autor William Golding. “É um clássico ganhador do prêmio Nobel de literatura. O livro conta a história de um grupo de jovens que se perdem em uma ilha e precisam lutar pela sobrevivência. Eles descobrem que o principal problema não é a luta contra a natureza, mas sim contra a própria humanidade, contra as próprias questões que os seres humanos inventam e criam os problemas que eles mesmos produzem”, disserta o professor.

Marcio também é responsável por coordenar o grupo de estudos Vivências Nietzsche, aberto para todos os interessados. “O grupo de estudos que coordeno na Unifor está acontecendo de forma virtual. Neste semestre, estamos nos dedicando à leitura de ‘A gaia ciência’, de Friedrich Nietzsche.

Pedro Boaventura, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo

Para o professor Pedro Boaventura, pertencente ao curso de Arquitetura e Urbanismo e Cinema e Audiovisual, a quarentena proporcionou mais tempo para um dos hobbies favoritos. “Reli algumas novelas de ‘O Decameron’, de Giovanni Boccaccio e me deliciei com uma das novelas feministas da obra, a sétima novela da sexta jornada. Divertida, feminista, mulher empoderada e sexualmente ativa, apesar de ser de 1.348”, conta ele.

Segundo o professor, nos últimos anos suas leituras são direcionadas à arte e arquitetura. “Realizei a leitura de uma biografia do arquiteto barroco italiano Francesco Borromini, do autor Domingos Tavares. Além disso, li ‘Depois da Arquitetura Moderna’, de Paolo Portoghesi, um crítico da arquitetura; adiantei ‘Teoria da Arte’, de Cynthia Freeland; e ‘Tchaikovski’, uma biografia que reli metade no início da pandemia e escutava as peças musicais citadas”, destaca. 

Batista de Lima, professor do curso de Jornalismo

Durante o período de isolamento social, Batista de Lima, professor dos cursos de Jornalismo e Estética, direcionou sua leitura para obras relacionadas à história do Ceará. “Eu acabo de ler ‘Pequena História do Ceará’, do autor Raimundo Girão. Consiste em um apanhado de tudo o que tem acontecido de importante no nosso Estado, desde que aqui chegaram os primeiros colonizadores. É um ótimo livro e nos interessa por ser a nossa própria história”, conta ele.

O professor também relata preferência pela obra ‘Pessôa Anta: execução ou assassinato?’, escrito por Maria Odele de Paula Pessôa. “Este livro é interessante porque trata sobre a Confederação do Equador e as execuções que ocorreram no Passeio Público. Ultimamente, estou lendo a Revista Urupema, que acaba de sair da Academia Norte e Nordeste de Letras e Artes (ALANE). Na revista, contém artigos dos acadêmicos da ALANE e convidados. A revista está muito boa, e além de ter dois poemas escritos por mim, existem diversos contos e crônicas dos acadêmicos”, comenta.

O livro ‘Urubus’, do autor Valdecir Alves, fez parte das leituras do professor neste período. “Foi publicado recentemente e ele tem uma vantagem, pois conta exatamente o que ocorreu em 1.932 com a seca. O livro também fala a respeito dos campos de concentração no Ceará. É um livro que trata desta triste história do Ceará no tempo que nosso governador era Carneiro de Mendonça e o presidente da república era Getúlio Vargas”, explica ele. 

Xênia Diógenes, professora do curso de Psicologia

Xênia Diógenes, professora do curso de Psicologia, relata sua experiência ao ler a obra ‘Demian’, do autor Hermann Hesse. “Estava em casa, e meu filho, um jovem de 24 anos, propôs a mim e ao pai dele a leitura do primeiro capítulo do livro Demian. Ele logo me interpelou dizendo que o capítulo era grande demais e que talvez nós não gostássemos da leitura. Aquele momento em família, fazendo a leitura desse livro, me despertou o valor e o poder da leitura”, relembra ela.

A professora conta sobre as sensações provocadas pelo livro. “A presença do Hermann Hesse trouxe para a narrativa construída na sala de casa um prazer e ao mesmo tempo, uma degustação sobre as ideias e ao conflito trazido por ele no livro. O livro conta a trajetória de um jovem e seu processo de descoberta. Os críticos dizem que o livro traz a luta do consciente e inconsciente, existem vários jogos de linguagem. Desde que meu filho cresceu, nunca havíamos feito isso e acho que só aconteceu por conta da pandemia”, completa.

Xênia ressalta que estar em confinamento a fez redescobrir as rotinas e compartilhar aquilo que é importante. “Até então, eu tinha lido mais leituras técnicas, como ensino híbrido e curadoria educacional. Essa leitura me trouxe prazer, não que as outras não trouxessem. Entretanto, a literatura tem esse gosto, em poder viajar na história de outros. É fantástico”, enfatiza ela.