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Seg, 11 Setembro 2023 18:36

Pesquisa Unifor: Artigo analisa atuação de hormônio na redução de dor em peixes-zebras

Produzido por Guilherme Marinho, egresso da Universidade de Fortaleza, o estudo trabalhou na descoberta para a redução da dor orofacial a partir da melatonina


O peixe-zebra foi escolhido para a pesquisa por possuir grande semelhança genética com os seres humanos (Foto: Getty Images)
O peixe-zebra foi escolhido para a pesquisa por possuir grande semelhança genética com os seres humanos (Foto: Getty Images)

O tratamento da dor é uma busca recorrente na ciência, que sempre busca realizar avanços científicos para promover uma melhora na qualidade de vida. Algumas pesquisas envolvendo a área da neurociência, por exemplo, focam na tradução dos resultados em animais para o corpo humano, colaborando para esse tipo de progresso mediante novas descobertas. 

Nesse contexto, o farmacêutico Guilherme Marinho Moreira, egresso do curso de Farmácia da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —,  produziu o artigo “Melatonin promotes orofacial antinociception in adult zebrafish by modulating TRP channels” (“Melatonina promove antinocicepção orofacial em peixes-zebra adultos modulando os canais TRP”, em tradução livre).

O trabalho avalia a participação de canais Receptores de Potencial Transitório (TRPs, sigla em inglês para transient receptor potential) no efeito antinociceptivo orofacial da melatonina em peixes-zebra. Em outras palavras, o estudo busca analisar de forma criteriosa como esse hormônio reduz a dor na região da boca e da face, descobrindo onde ele atua.

A dor orofacial é um problema que afeta cerca de 17 a 26% da população, razão pela qual os pesquisadores decidiram se aprofundar nos detalhes sobre o tema. O peixe-zebra foi o animal escolhido para a pesquisa devido sua versatilidade, facilidade de manuseio e a grande semelhança genética com os seres humanos.

Objeto de investigação do artigo, a melatonina é um hormônio endógeno (ou seja, produzido pelo próprio organismo) conhecido pela sua influência no sono. A partir de outros estudos, já foi demonstrado cientificamente o seu potencial terapêutico para além da regulação do ciclo circadiano — popularmente chamado de “relógio biológico”.


“O nosso estudo é importante por mostrar à sociedade que a melatonina tem um potencial terapêutico bem além (somente) da regulação do sono. Quem sabe no futuro teremos medicamentos analgésicos à base desse hormônio”Guilherme Marinho Moreira, egresso do curso de Farmácia da Unifor

Também participaram do estudo Antonio Eufrásio Vieira Neto e Gerlânia de Oliveira Leites, egressos do Pós-Doutorado em Ciências Médicas, além da professora Dra. Adriana Rolim, coordenadora de Pesquisa da Vice-Reitoria de Pesquisa (VRP) da Unifor e orientadora do trabalho.

Métodos

Para chegar nos resultados, a equipe de pesquisadores utilizou três concentrações de melatoninas, assim como três agentes (cinamaldeído, mentol, capsaicina) que induzissem a dor no peixe. Cada uma das substâncias é agonista, fármaco que ativa um receptor celular por meio da conexão com ele, de um canal TRP correspondente.

Com isso, foram realizados testes de campo aberto para observar o comportamento do peixe-zebra — foram utilizados seis indivíduos por experimento — somente com a aplicação da melatonina. Logo em seguida, foi aplicado o agente causador da dor para a avaliação do efeito antinociceptivo do hormônio em determinada concentração.


Momento da realização do teste de campo com os peixes-zebra (Foto: Arquivo pessoal)

Para efeitos de comparação, realizaram ainda um teste com um “grupo naive”, ou seja, sem a aplicação de melatonina nem de agentes causadores de dor. O comportamento dos animais foi medido pelo número de vezes que eles atravessam as linhas traçadas na placa de Petri em determinado período de tempo.

Resultados 

Por meio da observação do comportamento dos peixes e do docking molecular — ferramenta in silico utilizada para avaliações de interações entre um candidato a fármaco e seu alvo biológico — foi possível angariar respostas bem satisfatórias sobre o efeito antinociceptivo nos peixes na busca pela diminuição da dor. 

Assim, confirmou-se o efeito de redução de dor da melatonina em todos os canais TRPs testados, sendo eles:

  • Receptor de Potencial Transitório Anquirina 1 (TRPA1)
  • Receptor de Potencial Transitório Vaniloide tipo 1 (TRPV1)
  • Receptor de Potencial Transitório do Canal Catiônico da subfamília M (Melastina) membro 8 (TRPM8)

O trabalho concluiu então que a melatonina demonstrou mais afinidade com o canal TRPV1, que é ativado pelo uso da capsaicina. Para mais, a TRPA1 é acionada pela utilização do agente cinamaldeído e o TRPM8 pelo uso do mentol. 

Publicação Internacional

Devido à importância do tema abordado no estudo, o artigo foi publicado na revista internacional Physiology & Behavior, em maio deste ano. Com CiteScore em 6.6 e fator de impacto de 2.9, o periódico traz publicações de relatórios originais nas ampla área da neurociência comportamental e cognitiva. A interação entre fisiologia e comportamento é o pré-requisito para qualquer material publicado.

Com a publicação, Guilherme ressalta a importância da ciência para agregar conhecimento à sociedade: “A Unifor disponibiliza de grande estrutura física e excelentíssimos profissionais para ajudar os alunos a desenvolverem pesquisas nos mais variados temas. A ciência é passado, presente e futuro, e quanto mais pesquisadores tivermos, mais descobertas serão feitas. Com isso, todos nós, não somente a comunidade científica, teremos ganhos a curto-longo prazo”.