seg, 13 maio 2024 11:07
Histórias de mães que transformam o sonho acadêmico em realidade
Neste Dia das Mães, mulheres cujos caminhos se cruzam com a Universidade de Fortaleza contam como a maternidade transformou suas vidas e a forma de ver o mundo
Ser mãe é ofício conjugado no gerúndio, feito um processo que envolve das tarefas realizadas na rotina, por vezes em modo automático, às mudanças interiores mais profundas. É envolver-se em uma avalanche de mudanças, acordar de madrugada e checar se está tudo bem com os pequenos. Também é aprender a ajustar o relógio interior em sinal de alerta.
Ser mãe é se emocionar com um sorriso despretensioso de manhã. E entender que, quando a adolescência abre espaço para o desejo de liberdade, é tempo de operar nos bastidores. Depois, virão os conselhos e conquistas na vida adulta. Em qualquer fase, ser mãe é experimentar um amor sem limites e aprender a aceitar as imperfeições. É compreender que super-mães são todas as mães possíveis.
Não há quem passe à toa pela experiência da maternidade. Neste Dia das Mães, apresentamos as histórias de mulheres cujos caminhos se cruzam com o da Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz. Elas refletem sobre as mais diversas fases da maternidade. Sem romantizar as dificuldades, contam o sabor agridoce de ser mãe: o ofício mais difícil e mais incrível do mundo.
Do choque da gravidez ao amor sem limites da maternidade
Adriana Lopes queria ser mãe, mas ainda não havia decidido qual o melhor momento para isso quando descobriu que estava grávida. Depois de namorar à distância com um amor da adolescência que havia se mudado para o Rio de Janeiro, decidiu casar e cruzar o país.
Alguns meses depois, começou a perceber sintomas parecidos com os da vizinha, que tentava engravidar. Para tirar a dúvida, as duas amigas decidiram fazer o teste juntas. Foi aí que veio a surpresa: ambas estavam grávidas.
Adriana Lopes e a filha, Layza (Foto: Arquivo Pessoal)
“Fui mãe de uma forma inusitada. Foi um choque porque eu me prevenia. Fiz o teste de brincadeira”, conta Adriana, que tinha 21 anos na época. Incrédula, fez questão de pagar uma ultrassonografia para ver se o exame estava mesmo correto. Mas Layza Lopes já estava ali e seria, algum tempo depois, a maior alegria de Adriana.
O sentimento de mãe, confidencia, não veio no automático. Aconteceu aos poucos, quando a barriga foi crescendo e tornando tudo aquilo mais real. Layza nasceu e foi mudando tudo na vida de Adriana, mas o casamento durou apenas três anos e a mãe decidiu voltar para sua terra natal. A criança ficou com o pai por poucos meses no Rio de Janeiro e depois veio morar com ela em Fortaleza. “Nenhuma mãe quer ficar longe do filho. Foi um momento difícil”, conta.
Na capital cearense, Adriana ficou em casa cuidando da filha o quanto pôde, mas, depois que ela completou quatro anos, era hora de voltar a trabalhar. Foi este um dos maiores desafios da maternidade para ela: sair para trabalhar e deixar a menina chorando quando sabia que a vida dela tinha mudado tanto, mudando de Estado. “Nos primeiros dias, eu cheguei a pensar em não trabalhar porque ela chorava muito. Mas aí ela começou a estudar, e as coisas foram se ajeitando”, lembra.
Ser mãe, para Adriana, também passava por compreender o trabalho como uma necessidade e uma forma de dar uma vida melhor para a filha. E ela fazia questão de reverter parte do seu salário em melhorias para Layza. Foi assim que ela foi trabalhar, nos anos 2000, como atendente odontológica, atuando junto ao curso de Odontologia da Unifor.
Ao longo dos anos, ela viu a filha conquistar uma bolsa na Universidade e se formar como psicóloga. “A gente vinha juntas: ela para as aulas e eu para o trabalho”, diz Adriana. Layza se formou sem festa durante a pandemia, mas havia cravado para sempre o orgulho no coração da mãe com o diploma do ensino superior.
Para Adriana, maternidade é tentar ser uma pessoa melhor a cada dia, tanto para si quanto para o outro. Ela, que foi adotada, não acredita que exista mãe sem amor. Foi colocada em uma caixinha na calçada, mas mesmo assim nunca sentiu desamor nem raiva. “Não acho que minha mãe me deu por falta de amor. Na carta que deixou, ela dizia que não tinha como dar uma vida melhor para mim. Acho que ela me deu por amor”, afirma.
Layza hoje tem 29 anos, e Adriana diz que o dia a dia da maternidade nunca foi fácil. “Quanto mais suporte eles precisam, mais a gente se sente mãe”, narra. Quando as crianças vão crescendo, é preciso dar apenas suporte. Adolescência, conta, é tempo de explorar liberdade e da mãe agir nos bastidores.
Depois, chega a fase adulta e junto uma reaproximação e o aconselhamento. “A mãe é uma eterna preocupada”, ri Adriana. “Mas conheci o amor sem limites com a maternidade e faço tudo pela minha filha”, completa.
“Os questionamentos da maternidade não têm resposta. Criar um filho não é receita de bolo. O que serve para o seu talvez não sirva para o meu. O que é difícil são as cobranças que fazemos e a culpa que carregamos, mas é muito bom ter uma pessoa e reconhecer nela que é o seu amor maior” — Adriana Lopes, 51 anos, mãe da Layza
O sonho da mãe também é se formar
Lígia Nara Maia Moura, de 30 anos, sempre quis ser mãe, mas diz que experimentou a maternidade de forma conturbada. Engravidou enquanto cursava Fonoaudiologia na Unifor e, desde então, é mãe solo. Nunca poupou esforços para trabalhar e estudar. Por isso, dois meses depois de colocar João Gustavo neste mundo, já estava nas salas da Universidade, com um bebê no colo para não perder aulas e provas.
Mas ser mãe e pai sozinha não é tarefa fácil, e ela não conseguia cursar todas as disciplinas do semestre. Quando o avô morreu de covid-19, também precisou interromper a graduação. Mas não desistiu. Em plena pandemia, conseguiu um emprego no hospital — começou distribuindo remédios e depois migrou para o setor administrativo.
A experiência a levou a conseguir um emprego na Divisão de Patrimônio e Suprimentos (DPS) da Unifor. “Foi quando voltei a sonhar com meus estudos”, conta. “O que me motivava era pensar que eu precisava voltar para a Universidade e finalizar o curso que sempre quis”.
Consolidada no posto de trabalho, conseguiu se matricular novamente. O filho, hoje com cinco anos, tirou o segundo lugar na avaliação de seleção e ingressou na Escola Yolanda Queiroz, que fica dentro do campus da Unifor. “Passamos praticamente o dia juntos na Universidade”, conta Lígia.
É que ela o leva para as aulas da graduação pela manhã. À tarde, o deixa na escolinha, na famosa bicicleta com a qual circula pelo campus. Em seguida, Gustavo a acompanha no trabalho. É uma parceria intensa para resolver o sonho da mãe e melhorar a vida do filho, mas que só dá certo porque conta com o apoio de muita gente na jornada. Colegas e professores olham o menino se ela precisa se concentrar numa prova. Os companheiros de trabalho também dão uma força durante a jornada laboral.
“Os maiores desafios de ser mãe pra mim sempre foi o dia a dia. Poder educar e sustentar financeiramente meu filho. A vida de mãe não é fácil, principalmente sendo mãe solo, mas tenho muita força para finalizar o curso e realizar nossos sonhos de vida. Não vou desistir”, diz Lígia, que deve concluir a graduação no fim deste ano.
“Enfrento a minha maternidade no dia a dia. É muito corrido. Tive que aprender a dividir meu tempo para dar conta de tudo porque sou mãe solo, mas vai dando tudo certo. Ser mãe me fez ter mais responsabilidade. Hoje sou uma pessoa melhor, mais paciente. Mesmo sozinha, tento dar o meu melhor” — Lígia Nara Maia, 30 anos, mãe do João Gustavo
Lígia conta que gosta que o filho esteja diariamente em contato com um ambiente universitário, um lugar de busca por conhecimento e oportunidades na vida. Por isso, costuma passear com ele pelos bosques arborizados e expressar o seu desejo de que, no futuro, ele também estude ali.
Quando as coisas parecem difíceis demais, ela encontra escapes no campus. Vai no salão que existe lá, faz uma escova, coloca uma música e canta. Ela sente que as delícias são maiores que as dores. “Vou ficando motivada porque estou conseguindo levar ele no caminho correto. Quero que ele seja um adulto com responsabilidade e possa realizar os sonhos dele”, planeja.
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Maternidade com mais humanidade e empatia
Josiane Carneiro Cavalcante Saraiva, de 45 anos, sempre sonhou em ser mãe. Por conta de uma questão hormonal, precisou fazer um tratamento durante cerca de quatro anos até conseguir o seu resultado positivo, depois de um período de controle de ovulação. “Chorei muito de alegria porque tentava há anos. Meu filho é fruto de muita oração”, conta.
Mas pouco tempo depois ela decidiu se separar. Viu-se mãe solteira na comunidade do Dendê. O pai da criança dava apoio financeiro e ajudava, mas Josiane diz que a grande força para criar e educar Lincoln veio de seus próprios pais.
“Um dos maiores desafios como mãe foi morar dentro de uma comunidade, mas tive o apoio da família e da igreja para educá-lo. Foi assim que eu consegui. A minha base foi os meus pais. Foi um desafio e foi lindo”, afirma.
Josiane tinha apenas 21 anos quando engravidou. Desempregada quando teve a criança, contou com a ajuda financeira dos pais dela e do pai da criança. Depois, trabalhou em uma rede de sanduíches até conseguir um trabalho no setor de Serviços Gerais da Unifor. Conseguiu a vaga com a ajuda da indicação da mãe dela, que também havia trabalhado na Universidade.
Um novo mundo então se abriu. Lincoln conseguiu uma vaga na Escola Yolanda Queiroz. Estudioso, ele fez uma seleção e conseguiu uma bolsa para estudar no colégio Ari de Sá, numa parceria com a Fundação Edson Queiroz. No ensino médio, ingressou na turma olímpica e passou no vestibular de Medicina da Unifor. Por ser filho da colaboradora e ter estudado no programa da escola Yolanda Queiroz com excelência, conseguiu uma bolsa e concluiu a graduação.
“Como mãe de primeira viagem, sempre tive muito zelo. A educação e a alimentação do meu filho eram prioridades para mim. Ele sempre teve conforto e um ambiente razoável para estudar mesmo morando em uma comunidade. Queria que assim ele entendesse o tamanho do nosso amor por ele”, conta Josiane.
“Ser mãe pra mim é se doar 100%. Sou capaz de dar minha vida pelo meu filho, se for preciso. Chorei muito quando ele passou no vestibular. Foi um misto de sentimentos. Estava trabalhando quando o telefone tocou. Fiquei em êxtase. Desci as escadas como se pisasse em nuvens. Até hoje me emociono. No dia da colação [de grau], eu olhava para toda aquela multidão e agradecia a Deus. Meu filho agora é médico” — Josiane Carneiro, 45 anos, mãe do Lincoln
A maternidade, diz, a deixou mais humana e empática. A moça que começou como zeladora se qualificou e virou técnica do laboratório de enfermagem. Hoje, ela vê em cada aluno do Centro de Ciências da Saúde (CCS) um pouco de Lincoln.
“Vejo neles os mesmos sonhos do meu filho e me alegro junto. Eu me emociono com a conquista dos estudantes. A maternidade abriu meus olhos e me deixou muito mais humana. Ser mãe muda muito a gente”, atesta.
Uma conquista da mãe é educar as filhas
Ana Célia Rocha Ferreira, de 55 anos, está satisfeita como mãe. Formou a filha Andressa em Direito. A mais nova, Carolina, está concluindo a graduação em Medicina na Unifor. “É uma história muito bonita de vitória. Aqui na Universidade, eu tive uma rede enorme de apoio para os estudos da minha filha”, conta.
Ana Célia Rocha junto a sua filha Carolina, que está concluindo Medicina na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)
Ana Célia sempre quis ser mãe. A primeira gestação dela durou nove meses, mas o bebê não veio ao mundo com vida. Demorou anos para engravidar novamente, embora ela já se sentisse mãe daquele “anjo” que partiu e nunca foi esquecido. “Sempre quis ser mãe e, graças a Deus, realizei esse sonho. Depois do meu filho que nasceu morto, vieram as minhas filhas. Minha vida é dedicada a elas. Tudo o que fiz foi por elas”, diz.
Ana Célia decidiu se separar do pai das crianças quando Andressa tinha dez anos e Carol tinha cinco. A partir daí, decidiu que não deixaria nada faltar a elas. “Nós passamos por uma fase muito difícil”, lembra.
Trabalhando nos serviços gerais de um escritório, Ana Célia acordava todos os dias às quatro horas da manhã para arrumar as filhas e deixá-las no colégio. No final do expediente, buscava-as para voltarem juntas para casa. “A vida era corrida, mas, com a glória de Deus, vivemos hoje mais tranquilas”, diz.
Quando Carol passou no vestibular da Unifor, a família não tinha condições de pagar. Mas uma rede de apoio dentro da Universidade ajudou a colaboradora a conseguir uma bolsa para a filha. Para ela, foi uma vitória imensa.
“A educação é o mais difícil de ser mãe. Procurei educar as minhas filhas e ensinar o caminho de Deus na igreja católica. Hoje elas são meninas maravilhosas, um presente de Deus na minha vida. São muitos obstáculos, mas a cada dia a gente caminha um pouco e chega lá. Para mim, ter educado e estar formando minhas filhas foi a maior vitória. Conseguimos vencer muitas batalhas juntas” — Ana Célia Rocha, 55 anos, mãe de Andressa e Carolina