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Ter, 26 Março 2024 15:24

Entrevista Nota 10: Camila Bandeira e a formação multidisciplinar de arquitetos e urbanistas

Nova coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo pontua as competências que não podem faltar em um bom profissional da área e cita oportunidades e iniciativas que a graduação oferece para os alunos


Camila Bandeira é coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo e professora do Mestrado Profissional em Ciências da Cidade da Unifor (Foto: Ares Soares)
Camila Bandeira é coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo e professora do Mestrado Profissional em Ciências da Cidade da Unifor (Foto: Ares Soares)

A crescente preocupação com o meio ambiente, além da urbanização acelerada e o crescimento vertiginoso das cidades, coloca os arquitetos e urbanistas em posições de destaque na sociedade atual. Com um mercado em constante transformação, estes profissionais são cada vez mais requisitados para desenvolver projetos que integrem soluções inovadoras e práticas sustentáveis e inclusivas.

Entretanto, a procura por arquitetos e urbanistas que possuam habilidades multidisciplinares, dominem aspectos técnicos e tenham um olhar voltado para questões sociais, culturais e ambientais é ainda maior. Para se manterem atualizados na área, é necessário que os profissionais consigam aliar conhecimentos específicos a abordagens integradas e adaptativas. 

Camila Bandeira, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, pontua que o debate atual sobre questões interdisciplinares durante a formação do arquiteto e urbanista, permeando questões históricas, de tecnologia e representação, forma profissionais capazes de atender às demandas de seus clientes de forma competente e contemporânea.

“Acredito que o arquiteto e urbanista precisa estar preparado para um mercado de trabalho impulsionado pela flexibilidade, com competências empreendedoras, sabendo administrar seus escritórios, novas formas de comunicação com os clientes, como as redes sociais, e novas formas de representação gráfica, como [a metodologia] BIM (Modelagem de Informação da Construção) e realidade virtual”, acrescenta a docente.

Além de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Camila possui mestrado em Transportes pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, em Portugal, e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua também como consultora em sistemas de mobilidade e planejamento urbano e é professora do Mestrado Profissional em Ciências da Cidade (MPCC) da Unifor.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ela cita algumas das principais tendências para o mercado da arquitetura e urbanismo, e quais habilidades e competências não podem faltar em um bom profissional da área. Além disso, a docente conta como foi assumir a coordenação do curso e quais oportunidades e iniciativas a graduação oferece para os alunos.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Como você enxerga o atual cenário do mercado de trabalho para arquitetos e urbanistas, considerando seu rápido potencial de transformação?

Camila Bandeira — Vejo o mercado de trabalho com muito otimismo, considerando que o ambiente urbano e seus desafios, como as questões relacionadas ao aquecimento global e sustentabilidade, desigualdades socioespaciais e a mobilidade urbana, além do acesso à moradia digna e inclusão social, são campos relevantes para o arquiteto e urbanista do século XXI. Além disso, questões relacionadas à qualidade de vida no ambiente de moradia e de trabalho também impactam na nossa prática profissional, relacionando questões como tecnologia, ergonomia, práticas sustentáveis e conforto.

Entrevista Nota 10 — De acordo com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), existem 230.841 arquitetos ativos no país. Neste contexto, como se destacar no mercado? Quais habilidades e competências não podem faltar em um profissional da área?

Camila Bandeira — Primeiro, uma excelente formação, baseada na solução de problemas e estruturada por competências, como é a proposta do nosso currículo na Unifor. O debate contemporâneo de questões interdisciplinares durante a formação do arquiteto e urbanista, permeando questões históricas, de tecnologia e representação, auxiliam o processo de projeto, formando um profissional capaz de atender às demandas dos seus clientes de forma competente e contemporânea.

Acredito que o arquiteto e urbanista precisa estar preparado para um mercado de trabalho impulsionado pela flexibilidade, com competências empreendedoras, sabendo administrar seus escritórios e as novas formas de comunicação com os clientes, como as redes sociais, assim como as novas formas de representação gráfica, como BIM (Modelagem de Informação da Construção) e realidade virtual. 

Por último, nunca deixar de estar atualizado, sempre renovando conhecimentos, seja com cursos de pós-graduação, seja em cursos de especialização, em viagens, feiras, congressos, debates e debatendo ativamente em questões relevantes para a profissão. 

Entrevista Nota 10 — Diante das transformações tecnológicas, sociais e culturais, quais são as principais tendências que você identifica no campo da arquitetura e urbanismo para 2024 e, possivelmente, um futuro próximo? 

Camila Bandeira — As questões tecnológicas sem dúvida estarão presentes no cotidiano de todos nós, nas nossas casas e escritórios, na gestão da nossa cidade e ajudando na tomada de decisão política. Portanto, é uma tendência forte para a nossa profissão a inclusão da tecnologia na prática profissional e nos projetos.

Acredito também que precisamos urgentemente debater e incluir na prática projetual questões sobre as transformações climáticas, a preservação do nosso patrimônio histórico e cultural, além das nossas áreas verdes. A atuação também sobre a questão da redução das desigualdades socioespaciais, a acessibilidade urbana e a redução dos problemas relacionados à mobilidade urbana também estarão no centro do debate da nossa profissão. 

Entrevista Nota 10 — Você recentemente assumiu a coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Poderia falar um pouco sobre como está sendo essa mudança, tanto pessoal quanto profissionalmente? O que podemos esperar para a graduação agora e nos próximos anos?

Camila Bandeira — Foi com muita alegria que assumi a coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo. Iniciei minha trajetória como professora na Unifor em 2012, e aqui cresci bastante, não somente como profissional, mas como pessoa, tendo feito grandes amizades e parcerias de trabalho e pesquisa. Comentei com vários colegas do curso que assumi esse desafio em nome da nossa boa relação e do “bem-querer” ao nosso curso, e busco honrar a posição que assumi, para tornar nosso curso cada vez melhor.

Pessoalmente, tenho total apoio da minha família, estando todos cientes do novo desafio que assumi. Após a pandemia e o período que cursei o doutorado, eles compreendem que cada fase da nossa vida é encarada com responsabilidade e que eles desempenham papel fundamental na minha vida, com amor e carinho.

Para a graduação, esperamos consolidar a nossa matriz curricular, sempre inovando nas práticas de projeto e, mais recentemente, de extensão. Nossas viagens pedagógicas, uma tradição do curso, também têm cada vez aprimorado mais, tanto em conteúdo como em organização. Estamos atualizando nossa abordagem com relação às técnicas de representação, incorporando o BIM e a modelagem paramétrica, mas, claro, sem esquecer primordialmente a prática do desenho a mão livre na prática projetual. 

Entrevista Nota 10 — Quais são os principais diferenciais do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor? E quais oportunidades e iniciativas a graduação oferece para os alunos desenvolverem experiências práticas e conexões com o mercado durante sua formação acadêmica?

Camila Bandeira — No nosso curso, destaco os laboratórios, equipados para proporcionar uma boa experiência para o aluno durante o processo de projeto e para os demais componentes curriculares. Além disso, sempre incentivamos a realização de visitas técnicas aos locais escolhidos para os projetos, além de visitas aos equipamentos culturais da cidade e ao nosso patrimônio histórico. As viagens pedagógicas também são um destaque, pois proporcionam experiências fora da sala de aula, em âmbito local, regional e até nacional. 

As práticas de extensão também permitem aos alunos contribuírem com a sociedade de maneira integrada aos assuntos abordados no semestre, incrementando a discussão em sala de aula e permitindo uma melhor compreensão de questões relevantes à comunidade. Buscamos sempre trazer palestras e workshops com temáticas relacionadas à prática profissional, convidando profissionais renomados da área para falar aos alunos sobre suas experiências e desafios.