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Seg, 22 Abril 2024 11:45

Entrevista Nota 10: Vládia Pinheiro e o uso da inteligência artificial em diferentes contextos

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada da Unifor fala sobre os usos e desafios da IA hoje, além de pontuar a produção científica da Universidade nessa área


Vládia é mestre em Informática Aplicada e doutora em Ciências da Computação (Foto: Ares Soares)
Vládia é mestre em Informática Aplicada e doutora em Ciências da Computação (Foto: Ares Soares)

De diagnósticos médicos a recomendações de séries, o uso da inteligência artificial (AI) tem se tornado cada vez mais mais onipresente em nosso cotidiano. Essa revolução tecnológica, no entanto, ainda está em desenvolvimento contínuo e segue impulsionada pela necessidade de aprimoramento de algoritmos intrincados, além de ter que lidar com questionamentos éticos e sociais que surgem à medida que a ferramenta se expande.

Para Vládia Pinheiro, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, a inteligência artificial está tão arraigada em nossa vida moderna que, por vezes, nem percebemos que uma IA está interagindo conosco.

“Essas aplicações mostram como a IA se tornou uma ferramenta indispensável em muitos campos [do conhecimento], melhorando a eficiência, personalizando experiências e ajudando a resolver problemas complexos de maneiras inovadoras”, pontua a professora, que desenvolve pesquisas nas áreas de Inteligência Artificial, Linguística Computacional, Processamento de Linguagem Natural e Web Semântica.

Mesmo com os notáveis avanços, os desafios enfrentados no estudo e elaboração dessa tecnologia são diversos, especialmente pela complexidade dos algoritmos que demandam investimentos significativos em educação e formação especializada. Por isso, instituições de ensino e pesquisa como a Unifor são aliados fundamentais para a evolução do ramo, contando com uma linha de pesquisa em Ciência de Dados e Inteligência Artificial no PPGIA desde 2020.

Graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Vládia é Mestre em Informática Aplicada pela Unifor e doutora em Ciências da Computação pela UFC. Além de docente e coordenadora, ela também atua como Auditora do Tesouro do Município na Secretaria Municipal das Finanças de Fortaleza (Sefin).

Na Entrevista Nota 10 desta semana, a pesquisadora fala sobre os usos e desafios da inteligência artificial hoje, além de comentar os dilemas éticos e pontuar a produção científica da Universidade de Fortaleza nessa área.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — O uso de inteligência artificial já está altamente disseminado em nosso cotidiano, desde tarefas mais simples até atividades mais complexas. Poderia nos contar quais são as ferramentas e serviços mais conhecidos e utilizados que fazem aplicação de IA? Como essa tecnologia nos auxilia no dia a dia?

Vládia Pinheiro — A inteligência artificial (IA) está profundamente integrada em muitos aspectos do nosso dia a dia, desde simplificar tarefas rotineiras até solucionar problemas complexos. Está tão arraigada na nossa vida moderna que muitas vezes nem percebemos que uma IA está interagindo conosco. Dentre tantas aplicações de inteligência artificial, destaco as seguintes:

  • Assistentes Virtuais: Assistentes como Siri, Alexa e Google Assistant usam IA para compreender comandos de voz e responder perguntas, tocar música, fornecer previsões do tempo, controlar dispositivos domésticos inteligentes e muito mais. São os chamados Assistentes Virtuais Inteligentes (AVIs).
  • Recomendação de Conteúdo: Serviços como Netflix, Spotify e YouTube utilizam algoritmos de IA para analisar seus hábitos de consumo e recomendar filmes, músicas e vídeos que possam ser do seu interesse.
  • Serviços Financeiros: Muitas instituições financeiras usam IA para análise de crédito, automação de transações, detecção de fraudes e personalização de serviços para clientes.
  • Comércio Eletrônico: Grandes varejistas online, como Amazon, usam IA para gerenciar estoques, otimizar logística e personalizar a experiência de compra, recomendando produtos com base nas preferências e compras anteriores dos usuários.
  • Saúde e Medicina: IA é usada para apoiar o diagnóstico de doenças, possibilitando maior rapidez e precisão, personalizar tratamentos e gerenciar registros de saúde. A Telemedicina é uma realidade e uma necessidade para viabilizar o atendimento em locais longínquos, principalmente quando não se tem médicos de todas as especialidades. Assistentes virtuais auxiliam também na informação a pacientes e ajudam no engajamento e adesão a tratamentos.
  • Atendimento ao Cliente: Chatbots e assistentes virtuais são usados por muitas empresas para oferecer atendimento ao cliente 24h e sete dias por semana, responder perguntas frequentes e resolver problemas de forma eficiente.

Essas aplicações mostram como a IA se tornou uma ferramenta indispensável em muitos campos, melhorando a eficiência, personalizando experiências e ajudando a resolver problemas complexos de maneiras inovadoras. 

Entrevista Nota 10 — Sabemos que o ramo tecnológico vem se debruçando cada vez mais sobre a inteligência artificial, no entanto, outros campos de conhecimento também são beneficiados por essa tecnologia. A saúde, por exemplo, tem investido fortemente em pesquisas nessa temática. Que áreas da saúde possuem um maior uso de IA? Como esses conhecimentos se sobrepõem e se fortalecem?

Vládia Pinheiro — Os usos de IA na grande área da saúde se expandem a cada dia. Diagnóstico por Imagem, Pesquisa de Drogas, Gestão de Saúde Pública, Monitoramento de Saúde Comportamental, Robótica Médica, Telemedicina e Apoio ao Diagnóstico estão entre as subáreas que mais se beneficiam da IA. Um sistema de IA que consegue detectar um indício de um nódulo em uma mamografia, às vezes imperceptível a olho nu, pode salvar vidas e auxiliar os oncologistas no diagnóstico.

Durante pandemias, como a de Covid-19, a IA foi crucial para modelar a propagação do vírus, otimizar a alocação de recursos e analisar grandes volumes de dados epidemiológicos. Isso permite uma resposta mais eficaz e informada às crises de saúde pública.

Importante frisar que a área de IA tem sobreposição e se fortalece com pesquisa de outras áreas, e vice-versa, como o ramo de Processamento de Imagens, Robótica, Neurofisiologia, Psicologia, Linguística e Filosofia. Isso ocorre quando os avanços em uma aplicação proporcionam insights ou tecnologias que beneficiam outra. Além disso, a colaboração interdisciplinar, onde especialistas em IA trabalham junto com médicos, biólogos e outros cientistas, é fundamental para o desenvolvimento de soluções eficazes e seguras, garantindo que os benefícios da IA na saúde sejam maximizados.

Entrevista Nota 10 — Em níveis técnicos e científicos, quais são os principais desafios no desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial hoje em dia?

Vládia Pinheiro — O desenvolvimento e a aplicação de Inteligência Artificial em todas as áreas enfrentam uma série de desafios técnicos e científicos que precisam ser superados para garantir que as tecnologias sejam eficazes, seguras e éticas. E na área da saúde, são ainda mais críticos por estarmos lidando com vidas. Alguns dos principais desafios incluem:

  • Explicabilidade e Transparência,
  • Identificação de Viés,
  • Promoção da Justiça e Equidade,
  • Privacidade dos dados,
  • Impacto no emprego,
  • Uso indevido de tais tecnologias que visam ou promovem a desinformação.

Esses desafios exigem uma abordagem multidisciplinar que envolva não apenas especialistas em IA, mas também especialistas em ética, direito, filosofia, psicologia e outras áreas relevantes para garantir que a IA seja desenvolvida e aplicada de maneira responsável e benéfica para a sociedade.

Entrevista Nota 10 — Apesar da inteligência artificial auxiliar e dar suporte a muitos campos de conhecimento, há também questões morais para além da tecnologia em si — desde a utilização de conteúdos não autorizados no treinamento de plataformas que geram textos e imagens até seu uso em conflitos armados como o de Israel e Palestina. Nesse sentido, quais são os maiores dilemas éticos quando falamos sobre a pesquisa e o uso de IA?

Vládia Pinheiro — Os dilemas éticos acompanham a história. Quando falamos das pesquisas e o uso da IA, pesquisadores e demais partes interessadas devem tratar sobre o consentimento e uso dos dados, privacidade, responsabilização e prestação de contas, além de meios para evitar ou dirimir viés e discriminação.

Outras questões éticas exigem uma abordagem multidisciplinar que envolva não apenas especialistas em IA, mas também especialistas em ética, direito, filosofia, psicologia, economia e outras áreas relevantes para garantir que a IA seja desenvolvida e aplicada de maneira responsável e benéfica para a sociedade.

Questões e dilemas entre automatização e desemprego, uso militar e autonomia das máquinas, manipulação e controle social, treinamento dos modelos de IA e impacto no meio ambiente suscitam um debate contínuo na sociedade. Com relação à última questão mencionada, por exemplo, recentes pesquisas já determinaram que os treinamentos de grandes modelos neurais de IA emitem mais CO2 que um carro durante toda sua vida útil.

Entrevista Nota 10 — A Universidade de Fortaleza tem uma vasta gama de projetos, programas, laboratórios e muitas outras iniciativas que focam no uso ou estudo da inteligência artificial. Quais são as principais pesquisas que têm sido desenvolvidas na Unifor sobre o assunto? O que podemos destacar de mais relevante?

Vládia Pinheiro — A Pós-Graduação da Unifor possui diversas pesquisas interdisciplinares que envolvem seu corpo de pesquisadores nas áreas de Informática, Saúde, Direito, Psicologia e Administração. Por exemplo, podemos citar as pesquisas na área de IA jurídica e na área da saúde. Estamos desenvolvendo um assistente virtual inteligente chamado MarIA, baseado no ChatGPT, para melhorar o engajamento de pacientes crônicos diabéticos e hipertensos em seus tratamentos. Esta pesquisa é realizada com o suporte do Hapvida e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Outras pesquisas visam analisar os dados de propagação de doenças infecciosas.

Entrevista Nota 10 — O Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Unifor, do qual você é coordenadora, abriu uma nova e estratégica linha de pesquisa sobre Ciência de Dados e Inteligência Artificial no ano de 2020. Como essa área tem sido estudada pelos alunos e docentes do PPGIA? Qual a importância do Programa para a evolução do conhecimento em Ciência de Dados e Inteligência Artificial?

Vládia Pinheiro — Antenada às novas demandas, a Universidade de Fortaleza integrou ao Mestrado e Doutorado em Informática Aplicada a linha de pesquisa sobre Ciência de Dados e Inteligência Artificial. A expertise dos pesquisadores da Unifor e a integração com projetos desenvolvidos no Parque Tecnológico Unifor (TEC Unifor) são o diferencial da nova linha de pesquisa.

Nessa linha, os discentes são formados para investigar e desenvolver técnicas, modelos, métodos e ferramentas para coleta, exploração, modelagem, integração e análise de dados para aplicações em negócios, além dos desafios relacionados a aplicações em Inteligência Artificial, como inferência e previsão.

A natureza do curso é essencialmente prática, de forma a capacitar os profissionais para carreiras em Fintech, Inteligência de Negócios e Analítica, bem como para posições governamentais que exigem habilidades em análise de dados e modelagem de aplicações inteligentes.  O PPGIA tem formado, ao longo dos últimos anos, recursos humanos mestres e doutores em Ciência de Dados e Inteligência Artificial, além de contribuir com o desenvolvimento de soluções de IA visando sempre a melhoria da vida da sociedade.