null Cinema de horror brasileiro é opção para entrar no clima do Halloween

Seg, 30 Outubro 2023 12:07

Cinema de horror brasileiro é opção para entrar no clima do Halloween

Docente da Unifor fala sobre o gênero e dá dicas de filmes nacionais que exploram a temática


Histórias horripilantes, personagens assustadores e sustos de gelar a alma. Obras cinematográficas de horror fazem sucesso mexendo com imaginário e emoções do público (Foto: Getty Images)
Histórias horripilantes, personagens assustadores e sustos de gelar a alma. Obras cinematográficas de horror fazem sucesso mexendo com imaginário e emoções do público (Foto: Getty Images)

Umas das festas mais populares nos Estados Unidos, o Halloween ganha, a cada ano, mais adeptos em terras brasileiras. A tradição de comemorar o Dia das Bruxas (31 de outubro), como a data é conhecida por aqui, se fortalece em escolas, empresas e outros estabelecimentos, que investem em decorações e elementos temáticos.

Os brasileiros aprovam a incorporação da festa ao calendário nacional e abusam da criatividade nas fantasias e maquiagens. No entanto, não é de hoje que o Brasil transita pelos caminhos do terror.

Histórias horripilantes e personagens assustadores já faziam sucesso no país bem antes desse intercâmbio de costumes, facilitado pelo estreitamento das fronteiras culturais. No cinema, por exemplo, elementos de horror já se faziam presentes em filmes produzidos na primeira metade do século passado.

O gênero no Brasil

Para o Dr. Rafael Xerez, docente dos cursos de Cinema e Audiovisual e Direito da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, o gênero horror começa “oficialmente” no Brasil com a obra do cineasta, diretor e ator José Mojica Marins.

Em 1964, Mojica cria o icônico personagem Zé do Caixão, que fez sua primeira aparição no longa-metragem “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”. As principais características do protagonista são as unhas longas, a cartola e a capa preta, além do jeito dramático da fala.


José Mojica Marins foi precursor do horror brasileiro com o personagem Zé do Caixão (Foto: Indústria Cinematográfica Apolo)

No filme, Zé do Caixão é um agente funerário sádico e cruel que não acredita em Deus nem no diabo, buscando uma mulher perfeita com quem deseja ter um filho e perpetuar sua linhagem, que considera superior. “A obra do diretor perdura por mais de quatro décadas, influenciando gerações de novos realizadores no Brasil”, destaca Xerez.

Atualmente, uma série de novos diretores vem produzindo filmes de terror no Brasil com temáticas diversas, sobretudo voltadas ao horror psicológico, que trata simbolicamente de questões sociais e econômicas presentes no país.

“Entre estes, destaco o trabalho dos diretores Juliana Rojas e Marcos Dutra, com os excelentes ‘Trabalhar Cansa’ e ‘As Boas Maneiras’, ambos premiados em festivais internacionais”, acrescenta Rafael.


“Fazer cinema de horror no Brasil demanda criatividade na elaboração de narrativas inteligentes e engenhosidade na direção. É preciso amor pelo gênero. Por outro lado, pode oferecer visibilidade ao trabalho de diretores jovens e talentosos.” Rafael Xerez, docente da Unifor e membro da Academia Cearense de Cinema (ACC)

Paradoxo do horror

A popularidade do gênero passa pelo “paradoxo do horror”, que tenta entender por qual razão o sentimento de medo ou angústia provocado por determinadas obras de arte, notadamente pelo cinema de terror, geraria um prazer emocional ou intelectual no espectador.

Uma resposta está, possivelmente, relacionada à possibilidade de vivenciar situações de ameaça física, psicológica ou espiritual, sabendo que, ao final do filme, o perigo cessará, o que promoveria um efeito catártico. “Nesse sentido, o filme de horror seria uma maneira de lidarmos terapeuticamente com nossas próprias inseguranças e pulsões”, analisa Xerez.

Dia das Bruxas à brasileira

Como fã do gênero horror, o professor Rafael Xerez tem obras cinematográficas favoritas. Ele deixa indicações de filmes que, além de combinarem com o clima de Halloween, contribuem para que o público conheça mais do cinema nacional.

  • “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964)

Filme considerado como o fundador do cinema de horror brasileiro. Nele, o diretor José Mojica Marins apresenta seu icônico personagem.

O coveiro Zé do Caixão quer ter um filho perfeito. Sua esposa não pode engravidar, e ele procura uma substituta: a namorada do amigo. Após ser violentada, ela jura vingança.

  • “Trabalhar Cansa” (2011)

Dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra. O filme de horror psicológico trata simbolicamente das angústias econômicas da classe média brasileira.

Helena é uma dona de casa que resolve abrir uma mercearia. Porém, um dia seu marido perde subitamente o cargo em uma grande corretora, dando início a um processo de desestabilização na família.

  • “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” (2015)

Filme do diretor cearense Petrus Cariry. Feridas resultantes de relações familiares mal resolvidas são reabertas neste filme de horror psicológico.

Clarisse mora em Fortaleza, longe do pai, mas decide ir até sua casa para visitá-lo. Chegando lá, ela descobre segredos da sua infância. Em um clima tenso e claustrofóbico, ela mergulha em um turbilhão emocional.