null Dia da Literatura Brasileira: O que faz a literatura nacional ser única? Confira dicas de obras brasileiras

Ter, 30 Abril 2024 15:34

Dia da Literatura Brasileira: O que faz a literatura nacional ser única? Confira dicas de obras brasileiras

Em celebração ao dia 1º de maio, a professora Aíla Sampaio faz um panorama dos caminhos que moldaram a escrita nacional e revela perspectivas para o futuro


Família e escola têm o papel de incentivar a leitura nas novas gerações (Imagem: Getty Images)
Família e escola têm o papel de incentivar a leitura nas novas gerações (Imagem: Getty Images)

“O que se escreve sempre tem a ver com o tempo em que se escreve”. Com essa afirmação, Aíla Sampaio, doutora em Literatura Comparada e docente da Universidade de Fortaleza, destaca a influência das condições sociais, políticas e culturais do Brasil na formação da literatura nacional ao longo de diferentes períodos. 

Nesse sentido, a professora observa que assim como o romance romântico trouxe a mulher idealizada, a figura do indígena e os costumes da cidade grande, o romance realista expôs a sociedade interesseira. E o naturalista representou o que se considerava patologia social naquele tempo: corrupção, adultério, homossexualidade etc.

“Já o romance pós-moderno traz a violência urbana, a fragmentação do sujeito contemporâneo, sua crise de identidade, representando parte do que ocorre no nosso tempo”, ressalta.

Uma escrita em formação

Quando ainda era colônia, o Brasil fazia uma espécie de reprodução do que costumava ser feito em Portugal. A partir do romantismo, ainda que houvesse influência europeia, a literatura nacional foi ganhando autonomia e focalizando os costumes e valores brasileiros. 

Dentre as mudanças pelas quais a literatura brasileira passou, Aíla pontua que, na era colonial, eram produzidos apenas poemas. Ela relembra que a partir do século XIX, com a independência política, a literatura colocou o indígena como herói, marcando o surgimento do romance brasileiro, que se afirmou com José de Alencar e se consolidou com Machado de Assis.

A docente destaca também a relevância do Modernismo, que teve início com a Semana de Arte Moderna, evento que trouxe rupturas estéticas, brincou com experimentalismos e “institucionalizou” o verso livre.


Cartaz de divulgação da Semana de Arte Moderna, criado pelo pintor Di Cavalcanti (Imagem: Reprodução)

“De lá pra cá, passadas as experiências da poesia concreta, da poesia dos anos 1970 e do romance moderno, o que temos é um ecletismo avassalador. Voltam todas as tendências e estilos, só que com o olhar do nosso tempo, expressando as características do homem que, de herói, passou a anti-herói e, desde as narrativas do romance moderno, a herói problemático”, analisa a docente.

Vozes da contemporaneidade

Para Aíla, a literatura de hoje expressa quase todas as tendências anteriores, incorporando a elas as características e o estilo do período atual. “Escreve-se poesia em versos livres ou metrificados; escreve-se romances urbanos, focalizando a violência; romances regionalistas com crítica social; romance psicológico com o sujeito contemporâneo representado por personagens problemáticos, descentrados, vivendo crises de identidade… e por aí segue”.

Dentre os autores recentes, a docente destaca a obra de Milton Hatoum, considerado por ela o melhor escritor da contemporaneidade. “O estilo dele soma o do Machado com o do Graciliano e ainda tem voz própria. Recomendo a leitura de ‘Relato de um certo Oriente’, ‘Dois irmãos’, ‘A noite da espera’ e ‘Pontos de Fuga’ só para começar”, enfatiza.


Premiado escritor da contemporaneidade, Milton Hatoum costuma abordar em suas obras dramas familiares com alcance histórico e político (Imagem: Reprodução/Facebook)

Além do escritor amazonense, a doutora em Literatura Comparada sugere também a leitura dos seguintes autores contemporâneos:

  • Na prosa: Bernardo Carvalho, João Gilberto Noll, Raduan Nassar e Ana Miranda.
  • Na poesia: Adélia Prado, Conceição Evaristo e Ana Martins Marques.

Desafios e oportunidades

Um dos grandes desafios que os escritores brasileiros têm pela frente é a redução do número de leitores. Fato que é impulsionado, segundo Aíla, pelos estímulos visuais que desde cedo se impõem às crianças e jovens.

Para a docente, esse contexto prejudica o interesse na leitura de livros, e uma mudança de cenário só seria viabilizada por meio do esforço conjunto entre família e escola no sentido de criar o hábito da leitura.


A literatura é a base da formação cultural, pessoal e intelectual. É por meio dela que se forma o imaginário e se olha o mundo de forma diferenciada. No contexto globalizado e digital, ela tem a chance de chegar a mais pessoas; está assim, numa vitrine de longo alcance” — Aíla Sampaio, docente dos cursos de Cinema e Audiovisual e de Jornalismo da Unifor

Por outro lado, a professora visualiza oportunidades, uma vez que as novas tecnologias e as mídias digitais tiraram do anonimato escritores que não tinham espaço para mostrar seu trabalho.

“Sem dúvida, elas democratizaram a publicação e a divulgação da nossa literatura, que ultrapassa as nossas fronteiras e ganha o mundo. [...] Nunca foi tão fácil publicar livros, e a internet está aí para a ampliação do público. Creio que as oportunidades sempre existirão”, conclui Aíla.

Dicas de livros nacionais disponíveis na Biblioteca

Por meio da Biblioteca Central, a Unifor disponibiliza obras emblemáticas que compõem a literatura brasileira. A seguir, confira alguns dos títulos à disposição para empréstimo. Clique nos links para conferir os detalhes da obra e aproveite para reservar o exemplar para leitura.

Edições históricas e especiais para viajar no tempo

A Biblioteca Acervos Especiais da Unifor possui livros raros e primeiras edições de clássicos da literatura brasileira com assinaturas e dedicatórias de autores. Confira algumas obras do acervo e agende uma visita para conferir de perto os exemplares históricos.

  • Os Deuses de Casaca

Autor: Machado de Assis
Ano: 1866
Primeira edição

Muito rara, esta peça de teatro é uma das obras de Machado de Assis que tem como finalidade criar um teatro genuinamente nacional. O que dá um toque ainda maior de raridade a esta obra é a dedicatória autografada e assinada por Machado de Assis, o que raramente fazia. (Ao Novaes Tavares como prova de muita sympattia e affeição. Machado de Assis). 

  • Macunaíma: o heroi sem nenhum caracter

Autor: Mário de Andrade. 
Ano:1928
Primeira edição 

Exemplar com dedicatória de Mário de Andrade a Rodrigo Franco Mello de Andrade. Tiragem limitada a oitocentos exemplares. O texto também mereceu uma nova edição pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, ilustrada por Carybé (Ref. Brasiliana Itaú: pág. 476).

  • Vidas seccas

Autor: Graciliano Ramos
Ano: 1938
Primeira edição

Exemplar  encadernado preservando a brochura original, capa de Santa Rosa. Autografado pelo autor em dedicatória. 

  • Perto do coração selvagem 

Autor: Clarice Lispector
Ano: 1942
Primeira edição do primeiro livro escrito pela autora.

Obra de estreia da romancista, contista e cronista Clarice Lispector (1920-1977). De acordo com o crítico e historiador literário Alfredo Bosi (1936), trata-se de um período de revolução cultural, com renovação do legado estético e ideológico dos movimentos modernistas da década de 1920. Capa de Santa Rosa. 

  • Orfeu da Conceição

Autor: Vinicius de Moraes
Ano: 1956

Orfeu da Conceição foi a segunda  peça  teatral  escrita  por  Vinicius  de  Moraes em 1954, baseada no drama da mitologia grega de Orfeu e Eurídice. O exemplar da Biblioteca Acervos Especiais da Unifor possui dedicatória manuscrita de Vinicius de Moraes a Francisco Matarazzo Sobrinho.