null Saúde bucal: a Ciência a favor dos cuidados e da autoestima

Qui, 24 Setembro 2020 16:37

Saúde bucal: a Ciência a favor dos cuidados e da autoestima

Profissionais de Odontologia reforçam a importância dos cuidados com os dentes diante da Covid-19


Márlio Ximenes, coordenador do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)
Márlio Ximenes, coordenador do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)

Por duas vezes, outubro perfuma o hálito para render loas a quem zela pela saúde bucal e conhece melhor do que ninguém as estratégias para se manter um belo sorriso no rosto. No próximo dia 3, comemora-se o Dia Mundial do Dentista e, mais ao final do mês, em 25 de outubro, a data é comemorada nacionalmente. Na Universidade de Fortaleza,  instituição da Fundação Edson Queiroz, são muitos os motivos de contentamento identificados por professores e cirurgiões-dentistas ligados ao curso de graduação e Mestrado Profissional em Odontologia que dedicam atenção a tudo o que entra e sai pela boca, incluindo as bactérias e os temíveis vírus, como o que causou a Covid-19. 

Tudo porque há muito a ida regular ao dentista deixou de ser mera questão estética ou um simples cuidado com a aparência e higienização dos dentes, algo diretamente relacionado à autoestima. Dentistas são, cada vez mais, solicitados a migrar dos consultórios para os hospitais, colocando-se a serviço de complexos diagnósticos e tratamentos auxiliares para doenças crônicas ou degenerativas, como comumente já acontece com certos tipos de câncer. Também está na mão deles o desenvolvimento de pesquisas científicas capazes de propor soluções ou apontar inovações tecnológicas no momento em que imperativo é recuperar ou manter a saúde bucal dos doentes.    

Como professor do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) e chefe do Serviço de Odontologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o cirurgião bucomaxilofacial Eliardo Silveira Santos, 67, é um dos que se destaca nos anais da pesquisa odontológica no Brasil pela criação e manutenção do projeto Saliva Artificial. Há exatos 18 anos, contando com a infra-estrutura e apoio financeiro da Unifor, ele se viu desafiado a amainar o sofrimento de pacientes que apresentavam osteorradionecrose, uma sequela pós-radioterapia que dificulta a recuperação dos tecidos da pele durante o tratamento do câncer de boca e pescoço justamente por conta da hipossalivação.

“Quando se perde a saliva os agentes microbianos e as bactérias oportunistas se instalam com mais facilidade na boca, além de haver uma flagrante diminuição da imunidade do organismo. E há outras doenças que também causam secura na boca, muito por conta do efeito de certos medicamentos. Por exemplo, remédios para hipertensão arterial, ansiolíticos e analgésicos podem levar à sensação de secura na boca e causar dificuldade até na mastigação, causando gastrite ou perda de peso, entre outros problemas. Então, todos esses pacientes – e não só os que têm câncer de cabeça e pescoço – hoje recebem a saliva artificial, o que demonstra o quanto a odontologia atua no hospital inteiro e junto a diversas outras especialidades”, enfatiza o professor.  

Atualmente, segundo ele, cerca de 40 pacientes atendidos no HGF estão recebendo gratuitamente a substância que é composta por sais minerais, como cloreto de sódio, magnésio e fosfato. Também há atendimento e distribuição gratuita de saliva artificial nas clínicas odontológicas da Unifor, além de controle sistemático do estado de saúde de cada paciente beneficiado pelo projeto e que recorre à infra-estrutura modelo do Curso de Odontologia. “No mais das vezes, o processo de perda salivar é irreversível, portanto a reposição com a saliva artificial deve ser permanente, de acordo com a necessidade e o quadro de cada paciente. Esse acompanhamento é feito tanto na Unifor quanto no HGF, hospital parceiro no projeto. E lembro que, além de fazer chegar a saliva artificial de forma gratuita aos que não teriam como pagar por ela, o projeto devolve aos pacientes a condição de convivência social, já que muitos, por conta dos procedimentos cirúrgicos, tem a sua questão estética abalada”, sublinha. 

Não à toa, arrisca dizer o professor, todo o Brasil rende loas e recorre à Unifor para saber mais sobre o projeto Saliva Artificial, demonstrando não só interesse como perplexidade diante da potência e da longevidade da iniciativa nascida na instituição. “Não conheço nenhuma outra universidade no Brasil que tenha desenvolvido pesquisa semelhante – e por conta própria. E muito menos que mantenha, por 18 anos, a distribuição gratuita de saliva para a população, além de manter o acompanhamento clínico. Trata-se de uma ação extensiva perene que inclui a doação de saliva ao HGF e leva os alunos dos últimos semestres para estágio e acompanhamento clínico-odontológico no hospital. Tudo isso também serve de estímulo à pesquisa, já que os graduandos são estimulados a aperfeiçoar o projeto e criar novos, a fim de impactar positivamente na vida de quem mais precisa”, conclui o mestre.

Dentista de corpo inteiro

A boca como espelho integral do ser humano. Eis a premissa que guia a formação do cirurgião-dentista na Universidade de Fortaleza (Unifor), segundo o coordenador da graduação em Odontologia, professor Márlio Ximenes. “Além do lado curador ou reabilitador da profissão, procuramos tornar cada vez mais comum a ideia do dentista como promotor de saúde, um agente de prevenção. Tudo porque é melhor evitar do que tratar a doença. Então, a odontologia deve ser entendida como parte do pacote de prevenção e melhoria da qualidade de vida. Ou seja, da mesma forma que você busca uma boa alimentação, uma boa qualidade de sono, uma prática de exercício saudável, com o objetivo de manter-se saudável, você deve estar atento à saúde bucal, já que, do ponto de vista filosófico, o cirurgião-dentista não trata a boca e sim a pessoa”, conceitua o também especialista em periodontia.

Ao lembrar as duas datas de outubro em que se comemoram o míster odontológico, portanto, o professor elenca motivos para abrir um sorriso: tudo porque hoje a diversidade de atuação possível na área é extensa, contabilizando pelo menos 22 especialidades. “É possível se especializar na criança, no idoso, na saúde do trabalhador, no esportista, nas práticas de medicina alternativa, como acupuntura, nas abordagens integrativas da saúde, além do clássico 'restauração e reabilitação' dentária... E isso tanto no setor público quanto privado. Portanto, quando falamos em formação desse multiprofissional temos em mente que o currículo é um organismo vivo. À medida em que a ciência evolui e o perfil epidemiológico da população mudam procuramos nos adaptar”, observa o professor.

É que, segundo Ximenes, tudo gera impacto na estrutura da boca, desde a longevidade da população, responsável por um maior desgaste dentário e também por alterações na forma como os dentes interagem com músculos e articulações, até o tempo mais elástico em que os tecidos estarão expostos às possíveis infecções e aos desafios microbianos. Vide o enfrentamento da pandemia causada pela Covid-19, que levou não só a classe médica, mas também dentistas e outros profissionais de saúde a procurar entender cada vez melhor as doenças que nos acometem e ainda podem nos acometer de súbito. 

“A corrida agora é para que possamos fazer diagnósticos pré-clínicos, ou seja, antes mesmo de haver sintomas. Assim, enquanto esperamos a vacina que nos imunizará, buscamos intervir precocemente de forma a diminuir o impacto negativo na qualidade de vida. Por isso, para melhorar os testes diagnósticos e também o acompanhamento do paciente contamos com o desenvolvimento da tecnologia, no nosso caso os avanços da odontologia digital, que podem ajudar a reabilitar mais rapidamente e a menor custo o doente, de acordo com cada especialidade envolvida em cada caso”, ilustra. 

Entender as doenças, segundo o professor, é entender como elas interagem com o organismo. Daí a importância da pesquisa científica. “Hoje sabemos que os micro-organismos que habitam a cavidade bucal podem ter algum impacto em outros tecidos, comprometendo o sistema imunológico. Por exemplo: a manutenção da boca saudável tem impacto sobre a evolução da diabetes, sobre as pneumonias, sobre os entupimentos de artérias relacionados aos AVCs... Daí porque períodos mais longos de hospitalização exigem o cuidado da saúde bucal para que os pacientes sejam curados sem apresentar seqüelas. A odontologia hospitalar veio sanar essa lacuna e tem avançado muito, o que só nos gratifica e enriquece enquanto profissionais”, pontua.

Oura fonte de realização profissional nos últimos anos veio do âmbito público. Para Ximenes, o programa Brasil Sorridente, implantado no Governo Lula, reconheceu enfim que o dentista precisava atuar nas Unidades Básicas de Saúde, impactando massivamente na saúde coletiva. “A odontologia tem que estar capilarizada, presente no dia a dia da população, é isso que vai gerar um impacto muito maior na qualidade de vida do brasileiro. Por isso falamos em redes de saúde e defendemos a necessidade de termos o programa Brasil Sorridente como uma política de Estado e não de governos. Assim, independente de quem estiver gerindo a máquina pública em determinado período, teremos presença garantida na Atenção Primária, chegando aos diversos territórios e populações, seja em unidades móveis ou hospitais públicos”, destaca o professor.   

Na Unifor, desde já, um currículo calcado na qualidade do ensino e na convergência com o mercado de trabalho quer garantir a expertise necessária para a atuação em rede. Daí porque o multiprofissionalismo é visto com bons olhos e estimulado no Curso de Odontologia. “A gente consegue oferecer uma diversidade de experiências para o aluno e isso é um diferencial no mercado. Além das disciplinas, uma série de atividades extracurriculares gratuitas é ofertada para desenvolver conhecimentos e habilidades em áreas específicas, como monitorias, estágios, iniciação cientifica, ligas acadêmicas... Na Unifor, o dentista trabalha lado a lado com fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o educador físico, o psicólogo, o nutricionista, o enfermeiro, o terapeuta ocupacional, o médico, inclusive desenvolvendo pesquisas juntos. Esse ambiente acadêmico, que conta com o apoio de um forte copo docente com 60% de doutores e um parque tecnológico sempre na vanguarda do mercado, nos dá a liberdade de afirmar que estamos formando o dentista do futuro sim, aquele que terá muitos motivos para comemorar o seu dia”, encerra o professor.

Aplausos para a biossegurança

Parecia o fim da Odontologia. Quando a Covid-19 apareceu ostentando um superpoder de contágio através de gotículas de saliva espalhadas pelo ar ninguém mais em sã consciência queria sentar à cadeira do dentista e simplesmente abrir a boca. Acontece que os protocolos de biossegurança há muito já faziam parte da rotina profissional de quem investiga e cuida amiúde da saúde bucal. E assim os profissionais da área não demoraram a fazer os ajustes necessários e reunir ainda mais conhecimento e tecnologia a fim de garantir o máximo de proteção em seus procedimentos. 

É o que relembra, como um dever de casa cumprido, o professor do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), Cláudio Maniglia, que considera exitosa a rapidez com que os protocolos de biossegurança estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram para ficar nas clínicas odontológicas da Unifor.  “A gente já abordava e transmitia aos alunos a necessidade das medidas de proteção sanitária em aulas práticas do Curso de Odontologia. Então, quando a instituição criou uma comissão de biossegurança altamente capacitada para tornar ainda mais seguro um gradual retorno das atividades acadêmicas, passamos por novos e qualificados treinamentos, incluindo o uso e a cessão de EPIs. Isso foi da maior importância porque, embora não anule completamente os riscos, todo o conhecimento nessa área de controle das infecções vem sendo enraizado à formação dos alunos e tende a se fortalecer cada vez mais, também como uma ação coletiva de caráter preventivo”, aplaude Maniglia.

Realidade que também veio a ensinar. “Odontologia é uma área da saúde que vem se tornando muito importante para o diagnóstico e tratamento não só das lesões bucais, como também para a prevenção de outras doenças. Vejamos a própria Covid-19: o profissional tem que ser antenado e preparado para perceber os sintomas clínicos, sabendo que o paciente perde o paladar ou o olfato e pode ter inflamação das glândulas salivares, essa bolhas que formam no palato... O mesmo em relação ao câncer bucal: verificar o assoalho da boca, a base da língua, a lateral, as mucosas, perceber se não tem alguma lesão ou manchas brancas e identificar se o paciente é tabagista ou se usa muito frequentemente o álcool... Tudo isso nos orienta para buscar um diagnóstico precoce e é dever do profissional identificar a tempo”, ilustra o professor.

É a prática laboratorial de qualidade que, segundo Maniglia, tem feito a diferença na formação acadêmica dos alunos do Curso de Odontologia da Unifor, tornando-os argutos tanto na hora de fechar ou antecipar diagnósticos, como se convocados a auxiliar na ponta, em hospitais públicos ou Centros de Especialidades Odontológicas (CEOS). “A Unifor oferece o melhor em estrutura física e apoio tecnológico aos formandos. Os instrumentais e materiais que usam nas clínicas onde atendem gratuitamente a população mais carente são os melhores do mercado, lembrando que a instituição foi pioneira em ofertar todo esse instrumental. Antes, o aluno tinha que levar aquela maleta com tudo o que ele precisava. Isso era um ponto frágil inclusive do ponto de vista da biossegurança, já que não havia o controle microbiológico desses equipamentos adquiridos fora. Aliás, vale destacar ainda o controle biológico feito internamente pela Central de Esterelização de materiais, que faz um trabalho exemplar e fundamental, colecionando premiações locais e nacionais”, revela o professor.

Para ele, a cultura da qualidade sempre foi a marca do curso de Odontologia da Unifor e suas 5.148 horas/aula, distribuídas ao longo de cinco anos de formação.  “Internamente, os alunos começam a ter atividades pré-clínicas e laboratoriais, simulando atendimentos diretos, já a partir do terceiro semestre, ou seja, há uma inserção muito precoce na área profissionalizante. No currículo, sempre modernizado, há 12 disciplinas clínicas. Portanto, não é à toa que, quando os alunos vão estagiar nos CEOS ou hospitais, os preceptores notam e comentam que os graduandos da Unifor se diferenciam pela qualidade da prática e capacidade de resolução dos problemas. Isso muito em decorrência dessa carga horária mais intensa e do corpo docente que cobra dos alunos a execução dos procedimentos com alta qualidade. A mesma qualidade percebida e festejada pela população que acessa a instituição de forma gratuita para ter o atendimento odontológico em todas as áreas específicas e integradas”, regozija-se o também pesquisador especialista em endodontia regenerativa de crianças.