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Ter, 26 Dezembro 2023 09:35

Onde a prática dos alunos vira responsabilidade social

Há cinco décadas, a Unifor põe em prática ações que transformam vidas e demonstram sua dedicação em ir além do ensino acadêmico


Por meio de atividades de extensão nas mais diversas áreas, a Unifor busca impactar positivamente a comunidade ao seu redor (Imagem: Ares Soares)
Por meio de atividades de extensão nas mais diversas áreas, a Unifor busca impactar positivamente a comunidade ao seu redor (Imagem: Ares Soares)

Há cinco décadas, a Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, desenvolve e põe em prática ações que transformam vidas. São programas de voluntariado, projetos de pesquisa aplicada e parcerias estratégicas presentes em todos os setores da Unifor e que atendem, de forma ampla, às necessidades da sociedade cearense. 

A história de Lincoln Carneiro Saraiva com a Universidade é o exemplo perfeito de encontros que carregam o potencial de modificar realidades. O menino cresceu na comunidade do Dendê, nos arredores da instituição, vendo as mães da vizinhança torcerem para que seus filhos conseguissem uma vaga na Escola Yolanda Queiroz, uma das ações de responsabilidade social da Fundação e que, há mais de 40 anos, oferece ensino gratuito de qualidade para a sociedade. E ele conseguiu.

Já tem quase 20 anos que começou a estudar ali e a ver portas se abrirem para construir um futuro e realizar sonhos que pareciam quase inalcançáveis – tudo fruto das ações de responsabilidade social que a Unifor abraça há 50 anos. Em 2023, essas iniciativas lhe renderam o 19º selo "Instituição Socialmente Responsável", emitido pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).

"[Na Escola Yolanda Queiroz], as professoras olhavam principalmente o lado humano da criança, assim como seu desenvolvimento individual e cultural. Ali, o aluno não é visto só como um número ou como alguém qualquer, mas sim como uma pessoa com sua personalidade a ser desenvolvida, com as suas individualidades, de modo que esse carinho é o que mais marca", recorda Lincoln.

Ele ficou lá até 2007, quando finalizou todos os degraus da jornada escolar disponíveis na escolinha. Mas a dedicação e as boas notas o fizeram conseguir uma bolsa para estudar no colégio Ari de Sá, em uma parceria da Unifor com a escola privada. Foi lá que concluiu os estudos e seguiu conquistando as bases de conhecimento necessárias para, depois, ir em busca de outro sonho: o de estudar Medicina. 

"Quando a Universidade me deu essa bolsa, ela não olhou só as notas em si, mas a presença dos meus pais em minha vida e minha própria vontade de aprender", diz. Para ele, as oportunidades que recebeu da Unifor lhe abriram os horizontes e o ensinaram a sonhar grande, mas também a olhar à sua volta com muita humanidade.

Durante boa parte da infância, Lincoln quis ser juiz, mas no Ensino Médio decidiu que queria mesmo era ser médico. O pensamento de que seria impossível alcançar essa realidade se fazia presente com frequência, entretanto, foi o olhar para o lado humano, desenvolvido durante sua formação escolar, que, no fim das contas, falou mais alto.

O estudante então fez o vestibular para o curso de Medicina na Unifor e conquistou uma vaga. Como havia sido aluno da Escola Yolanda Queiroz e seguido os estudos com maestria, com a oportunidade concedida pela Fundação, Lincoln conquistou outra bolsa integral para realizar o sonho de ser médico. "Vejo que a educação, a Universidade de Fortaleza e a Medicina realmente mudaram minha vida, e agradeço a Deus por tudo isso", diz ele, nas vésperas de sua formatura.


"A Unifor tem sido fundamental para a formação dos profissionais cearenses, não só no aspecto profissional e técnico, mas principalmente cultural, social e humano. [Além disso], faltariam linhas para descrever o grande impacto que a Universidade tem na comunidade ao redor. Todos no Dendê reconhecem o valor que a instituição dá ao desenvolvimento sociocultural, tanto do lado de dentro quanto de fora do campus" – Lincoln Carneiro, estudante de Medicina da Unifor

Cinco décadas de ações para transformar o mundo

A trajetória de Lincoln é apenas uma das muitas pontas de um robusto novelo de ações transformadoras que a Unifor abraça desde a sua criação, há 50 anos. Na instituição, a responsabilidade social não é mero detalhe. Por isso, são muitas as ações e os programas que mostram o empenho da Universidade em retribuir à sociedade o trabalho desenvolvido no campus.

"A conquista do 19º Selo Instituição Socialmente Responsável é um testemunho tangível do compromisso contínuo da Unifor em contribuir para o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade. Essa distinção reflete uma cultura arraigada de responsabilidade social, que permeia todas as esferas da instituição", explica o professor Marcus Mauricius Holanda, chefe da Divisão de Responsabilidade Social da Unifor. 

Ele diz que receber mais uma vez este selo demonstra a dedicação da Universidade em ir além do ensino acadêmico, buscando impactar positivamente a comunidade ao seu redor. "Isso se traduz no engajamento em projetos sociais, na promoção de ações sustentáveis e na formação de profissionais conscientes de seu papel na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva", complementa.

Por isso, a Unifor oferece iniciativas voltadas para o voluntariado, educação e capacitação profissional, permitindo também um campo prático para seus estudantes. "Atuando com o princípio de gerar melhoria de vida aos assistidos, os projetos são dotados de grande representatividade para a comunidade em geral, desenvolvendo atividades distintas e de grande importância em seus cenários de atuação", pontua Marcus Mauricius.

Não faltam exemplos. A Escola Yolanda Queiroz oferece educação de qualidade gratuita há 41 anos. O Centro de Formação Profissional realiza a qualificação profissional de jovens e adultos gratuitamente. Não dá para esquecer também dos serviços de saúde do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), do apoio do Escritório de Prática Jurídica (EPJ), dos serviços das Clínicas Odontológicas, da Escola de Esporte, do Projeto Jovem Voluntário e por aí vai.

Marcus Mauricius lembra que é crucial que uma universidade olhe para além da formação de novos profissionais. "Ela se torna um agente de mudança social, ajudando a combater desigualdades e promovendo o desenvolvimento inclusivo da sociedade. Ao se envolver ativamente com a comunidade, a instituição não apenas forma profissionais capacitados, mas também cidadãos conscientes, éticos e comprometidos com questões sociais", destaca.


"Ao se engajar em programas sociais, a Unifor consegue direcionar seus recursos e conhecimentos para suprir necessidades reais da comunidade. Por exemplo, projetos de educação, saúde e sustentabilidade promovidos pela instituição podem oferecer acesso a serviços antes indisponíveis, melhorar a qualidade de vida e gerar oportunidades para grupos vulneráveis" – Marcus Mauricius Holanda, professor e chefe da Divisão de Responsabilidade Social da Unifor. 

Para minimizar a dor do outro

A estudante Carolina Fonteles está no quinto semestre de Enfermagem na Unifor e, assim que iniciou a graduação, conheceu o Projeto Jovem Voluntário. Por meio dessa iniciativa, uma vez por semana, os acadêmicos realizam trabalho voluntário em uma instituição de saúde e desenvolvem ações como leituras e trabalhos educativos, com a intenção de minimizar a dor e o desconforto dos pacientes e cuidadores.

"Fui me encantando pelos relatos de quem já tinha sido voluntário. Prontamente, segui o instagram do projeto e soube que queria vivenciar aquilo", conta Carolina. Logo que abriram as inscrições, ela se prontificou a participar. Em 2022, começou como voluntária do NAMI. No semestre seguinte, quis continuar e se tornou monitora do Hospital Infantil Albert Sabin. Agora, ela está na Associação Peter Pan. 

"É irrefutável o meu carinho e admiração pelo projeto, que me deu a oportunidade de expandir os horizontes e viver experiências muito marcantes. A gente não espera receber e dar tanto carinho dentro de um hospital, onde estamos acostumados com enxergar somente dor", afirma Carolina.


"O envolvimento da Unifor em projetos sociais é crucial para formar cidadãos responsáveis e conscientes. Na minha visão, o envolvimento universitário nessas iniciativas beneficia tanto a comunidade quanto enriquece a experiência educacional dos estudantes, além de nos preparar para sermos cidadãos mais engajados e conscientes." – Carolina Fonteles, estudante do quinto semestre de Enfermagem da Unifor

Carolina diz que o Projeto Jovem Voluntário a tirou de dentro de uma bolha. "Ao entrar nos hospitais, a gente se depara com uma realidade que nenhum de nós está acostumado. E, em meio a tanta dor e tristeza, levamos felicidade de formas tão lúdicas. O que para nós é simples, para eles é o ponto alto do dia", explica.

Para a futura enfermeira, o programa é sinônimo de empatia e compaixão. "Encerrei com chave de ouro o projeto", celebra. "Rodei todos os campos de atuação, e abracei todas as experiências de coração. Levo comigo as amizades e as memórias que construí durante essa jornada. O sentimento que fica é de gratidão", declara. 

Por mais capacitação profissional

Raimunda Deuziane Silva conta que não dispensa um grande desafio profissional. Moradora de Beberibe, ela é tecnóloga em hotelaria e trabalha com marketing digital para o turismo. Por meio de amigos, conheceu o Centro de Formação Profissional (CFP), que visa promover a formação de pessoas de baixa renda e sua inserção no mercado de trabalho, por meio da oferta de cursos técnicos e profissionalizantes gratuitos.

"Minha experiência no CFP foi uma das melhores, pois sempre vi nesse projeto uma oportunidade ímpar para  reciclar e aprimorar meus conhecimentos de forma gratuita e online", conta. Lá, Raimunda fez diversos cursos, como o de recepcionista, organização de eventos e empreendedorismo digital, o que a motivou a criar seu próprio negócio, o RD Labconsultoria, voltado para pequenos empreendimentos hoteleiros. 

Para ela, o CFP a fez querer se aprimorar cada vez mais para enfrentar a competitividade do mercado. Hoje, Raimunda é aluna do curso EAD em Marketing Digital da Unifor, após conseguir uma bolsa de estudos por meio do Programa Super Bolsas Filantrópicas, iniciativa da Fundação Edson Queiroz. 


"É de suma importância promover essa formação profissional de pessoas de baixa renda e sua inserção no mercado de trabalho, por meio da oferta de cursos técnicos e profissionalizantes gratuitos, pois isso abre portas. Sem contar com o time incrível de professores e tutores, que passa o conhecimento teórico e sua experiência de mercado para esse público. Só a educação e o conhecimento podem mudar o nosso país" – Raimunda Deuziane Silva, egressa do Centro de Formação Profissional

Aliando serviços em saúde à uma formação consciente

Nos exemplos de vidas transformadas pelas iniciativas de responsabilidade social da Unifor, está implícita a preocupação da Fundação Edson Queiroz em promover uma sociedade mais justa e com mais oportunidades para uma vida melhor. Ações, programas e eventos se multiplicam pelo campus com esse objetivo em comum. 

É uma via de mão dupla: enquanto o papel social mais ativo melhora a vida da sociedade, ele também fortalece a formação acadêmica e profissional dos alunos. E isso se espalha pelas mais diversas áreas. O Centro de Ciências da Saúde (CCS), por exemplo, está repleto de atividades voltadas à comunidade, por meio da prestação de serviços em saúde. 

Para citar alguns, lembremos do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), das Clínicas Odontológicas, do Projeto Educação e Saúde na Descoberta do Aprender e das inúmeras atividades extensionistas realizadas por alunos e docentes dos cursos desta área.

"Nossas ações estão, em sua grande maioria, relacionadas a prestação de serviços à sociedade, seguida da educação e atenção em saúde, envolvendo os alunos desde o primeiro semestre da graduação e seus professores, e todas aqueles que fazem a Universidade", explica a diretora do CCS, Lia Brasil.

Ela diz que a Unifor favorece a formação integral do aluno, propiciando o desenvolvimento de competências, habilidade e atitudes para além do saber específico da profissão escolhida. "As atividades de extensão possibilitam o desenvolvimento em nosso aluno do compromisso com o social, à medida que estabelece a interação entre academia e sociedade", pontua.

Dentre as ações de extensão, estão programas, projetos, cursos, oficinas, eventos, prestação de serviço e as cerca de 55 ligas acadêmicas, que prestam serviços à sociedade. Completam o pacote outras iniciativas contínuas vinculadas à matriz curricular dos cursos de graduação, como a Caminhada da Saúde, Ambulatório da Dor, Projeto Casa Nazaré, entre outros.

A participação nessas atividades permite ao aluno atuar de forma transformadora e responsável na comunidade. Outro ponto forte e determinante no desenvolvimento dessas ações é garantir a realização das ações baseadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030, consolidada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para erradicação da fome, pobreza e melhora na qualidade de vida do planeta.


"A Universidade, no desenvolvimento de suas pesquisas, gera conhecimento e técnicas que são disseminadas na sociedade, por meio de atividades extensionistas na forma de projetos, programas e  prestação de serviços. Forma-se um ciclo de conhecimento e intervenção na tentativa de melhorar cada vez mais a vida em sociedade." – Lia Brasil, diretora do CCS

A busca por uma sociedade mais justa

A responsabilidade social da Unifor também permeia o acesso à justiça e a busca por uma sociedade mais justa, consciente e amparada. No Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), o Escritório de Práticas Jurídicas (EPJ), o Projeto Cidadania Ativa e o Núcleo de Apoio às Vítimas de Violência Urbana (NAVV) são alguns exemplos de iniciativas com esse objetivo.

Juliana Mamede, professora e coordenadora do curso de Direito e do NAVV, salienta que, ao lançar um olhar de cuidado sobre a sociedade, a Universidade apresenta-se como um elo entre as instâncias de poder, promovendo uma força positiva na superação das desigualdades, na promoção dos direitos humanos e, consequentemente, na construção de um futuro sustentável e equitativo.

A docente explica que o CCJ desenvolve diversas atividades no âmbito da responsabilidade social, algumas de caráter mais pontual e outras de forma contínua. Entre as pontuais, está a realização de atendimentos e serviços para emissão de documentos junto a órgãos como ENEL, INSS, Sindiônibus e CadÚnico. Além disso, o centro promove atividades de extensão voltadas para idosos e pessoas com deficiência, com o objetivo de promover a dignidade humana e inclusão social. 

Entre os projetos contínuos de mais destaque, vale lembrar de ao menos três: o EPJ presta atendimento gratuito à comunidade por meio do encaminhamento de processos e orientações de natureza legal; o Projeto Cidadania Ativa desenvolve projetos voluntários de responsabilidade social e ambiental em comunidades; e o NAVV que, por sua vez, oferece suporte à população vítima de violência urbana.

"Os referidos ambientes, além de se apresentarem enquanto local de prática jurídica para os alunos do curso de Direito, a partir da realização de atendimentos jurídicos comunitários, são espaços onde pretende-se acolher a comunidade vulnerabilizada, a partir do seu lugar de fala", afirma Juliana.  

A professora lembra que, em cada atendimento é preciso compreender-se a perspectiva única e a experiência pessoal de cada pessoa, pois somente a partir dessa percepção é que as adversidades podem ser transpostas, ou, ao menos, minimizadas. 


"As ações de responsabilidade social no palco universitário desempenham papel crucial na promoção de uma sociedade mais justa e na formação cidadã dos discentes, visto que o engajamento discente nas pautas sociais faz emergir um compromisso de cuidado com minorias e grupos socioeconomicamente mais fragilizados" – Juliana Mamede, professora e coordenadora do curso de Direito

Juliana diz que a vida em comunidade só pode ser transformada positivamente a partir de um esforço conjunto, com a criação de redes de apoio que operem nas mais diversas instâncias. Assim, projetos de assistência jurídica, social e psicológica “renovam as esperanças, impactando positivamente no cotidiano daqueles que se socorrem de tais serviços", finaliza a docente.